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quinta-feira, 11 de abril de 2013

MAIS UMA NO FACEBOOK- SOBRE DROGAS E VIOLÊNCIA.


Relato publicado na página do Facebook  de Raimundo Bento Sotero 

"Há alguns anos, naquele tempo em que eu comprava peixe na Praia da Raposa, de uma feita, chegando a São Luis por alta madrugada, adentrei pela Rua da Bosta (o nome era este mesmo, não estou menosprezando nada; inclusive com direito à placa e tudo o mais) e quando tal se deu, me deparei com uma cena cruel, na qual um policial militar estava prestes a executar dois adolescentes, parceiros do crime por certo e cada qual na faixa etária de 16 anos. Aquilo me deixou um tanto quanto comovido e, por que não dizer, apavorado ante o iminente e vil desfecho; mas, mesmo assim, fui interceder pelos dois junto ao matador. Depois de algumas considerações, ele aquiesceu ao meu pedido e mandou que os dois fossem embora; mas sem olhar para trás, dizendo que deviam a vida deles a mim. 
Depois deste incidente, saí dali ainda com as pernas tremendo e nunca mais voltei à referida rua. Ora, meus amigos, já naquele tempo era coisa comum o matar-se delinqüentes em São Luis, sendo que, quando se trafegava em horas mortas pela estrada que vai da Maioba ao Araçagi, era normal encontrar-se três ou quatro corpos jazendo ao rés do mato, esperando o rabecão para os enterrar como indigente. Por ali havia uma chácara de um famoso delegado de polícia em que, anos mais tarde, foram encontradas mais de trezentas ossadas humanas numa escavação autorizada peja justiça.
Pelo que se disse, parece que era coisa perigosa andar à noite por São Luis; mas não era, pois os polícias só matavam os marginais, sendo que ao cidadão eles dispensavam grande consideração, como se viu pelo relato que acabei de contar, quando intercedi pelos dois pivetes. Não fosse como eu disse, aquele polícia teria me matado a mim e aos dois meliantes e não foi o que se deu, senão não estaria escrevendo estas linhas aqui.
Aquele tempo era um tempo ainda de alguma inocência, não havendo em circulação outra droga que não fosse maconha, coisa mais sem graça para o viciado de hoje em dia, o qual se esbalda no crack ou coisa pior. “Que lombra pode dar um inocente cigarro de maconha!?”, pergunta-me um amigo que é viciado em drogas pesadas, e eu lhe respondo “Sei lá!”, que nunca experimentei droga, qualquer que tenha sido. Quando jovem, ainda inventei de fumar algum cigarro, pois naquele tempo era muito bonito o fumar-se, sendo idiota o que não o fizesse; mas logo deixei aquilo de mão, que me fez um mal tão grande na garganta que até hoje sofro por isto. É que minha garganta saiu com defeito de fabricação, de tal sorte que, se tivesse persistido no cigarro, há muito estaria de osso branco, segundo me alertou um médico que é meu amigo. “Se você fumar, você se fuma!”. Não fumei mais!
Meus amigos, daquele tempo quase inocente para cá, quando se via um delinquente na vida outro na morte, por raro, muita coisa mudou e hoje eles são aos montes e se matam bestamente. A polícia ainda ajuda em alguma execução; porém são os próprios aprendizes do crime que matam e se dão a matar, entre si, aos montes, sendo caso comum a morte deles, principalmente pelos fins de semana, quando saem a fazer o que não presta. É, por assim dizer, como numa guerra, onde a morte tem pouca valia.
Naquele tempo, no episódio da Rua da Bosta, fiquei muito feliz de ter intercedido pela vida dos dois; hoje, porém, se tal acontecesse de novo, ainda intercederia, por razões humanitárias; mas não me sentira feliz, por saber que estaria poupando a vida de dois assassinos em potencial, que eles todos são de alta periculosidade! Por isso, quando morrem, já não fico alegre nem triste. 
Desculpe-me, amigo leitor, mas é isto o que sinto: falta de sentimento para com a morte deles. E, em tempo, não os quero perto de minha casa! Mas, se você discorda disto, não me chateio. E, tem mais, se quiser, pode até os levar para sua casa, que não me importo e continuo sendo seu amigo!."

Raimundo Bento Sotero
fonte:Revista camocim/jardim das oliveiras blog

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