Especialista em segurança da BBC
Até mesmo o simples ato de fazer esta pergunta irá aborrecer muitas pessoas no Egito.
Longe dos locais em que ocorrem episódios de violência no país, a vida de milhões de egípcios continua normalmente. Os problemas fundamentais do Egito são mais econômicos do que políticos.
Mas em uma semana em que o braço político da Irmandade Muçulmana convocou "um levante do grande povo do Egito contra aqueles tentando roubar com tanques sua revolução", quando dezenas foram mortos em confrontos envolvendo o Exército e ativistas islâmicos e quando o grande xeque de Al-Azhar (considerado por muitos a maior autoridade entre os muçulmanos sunitas) advertiu quanto ao risco de uma guerra civil, a desconfortável questão paira no ar.
Será que o Egito está caminhando para uma nova "guerra santa" travada por islamistas contra as autoridades do país?
Minoria extremista
Há muitos fatores que reforçam a visão otimistas de que o país mais populoso do mundo árabe será capaz de evitar uma onda de violência de larga escala com pano de fundo religioso no cenário criado após a queda do presidente Mohammed Morsi.
Tendo vivido no Egito por duas vezes, por vários anos, senti na pele em primeira mão a tolerância e generosidade dos egípcios.
É claro que há extremistas, mas eles são uma minoria. Suas visões, apesar de ganhar as manchetes dos jornais, não representam a opinião de grande parcela da população.
O Egito também já sobreviveu a crises piores: o assassinato de seu presidente por radicais em 1981 e a insurgência islâmica que cobrou a vida de 700 pessoas no final da década de 90, culminando com o massacre de 58 turistas estrangeiros no hotel Luxor em 1997.
Mas dada a infeliz convergência de eventos e tendência que emergiram no Egito nesta semana, não seria sábio ignorar que as sementes de uma potencial guerra santa estão agora sendo plantadas.
Martírio, faixas e retórica
“Nós realizaremos explosões, nós empunharemos armas, e nada mais do que a morte irá nos dissuadir de garantir o retorno de Morsi ao poder”, informou o jornal egípcio Al-Hayat citando um integrante da Irmandade Muçulmana.
Pequenos grupos de homens, em sua maioria jovens, começam a ser vistos na multidão usando mortalhas brancas de “martírio”, uma encenação que indica até onde eles estão preparados a ir para forçar o retorno de um presidente de plataforma islâmica ao poder.