Toda vez que um foguete é interceptado em Tel Aviv pelo sistema
antimísseis “Iron Dome”, o curitibano Gabriel Paciornik e o mineiro
Vitor Lansky escutam a explosão. Eles moram em Ramat Gan, cidade que
fica bem ao lado de Tel Aviv, alvo de ataques do grupo islâmico Hamas
após o início, no último dia 14, de
uma operação militar israelense na Faixa de Gaza.
“São dois foguetes que se encontram e se chocam. É um barulho alto e
assustador”, descreve Vitor, de 27 anos. Ele se mudou para Israel há
quatro anos. Estuda educação física e vive com a namorada, que é
israelense.
Já Gabriel, de 35 anos, chegou ao país há 15 anos, trabalha como
desenhista industrial e mora com a mulher, a gaúcha Barbara Blank, 31.
Vitor Lansky, que mora em Israel há quatro anos (Foto: Arquivo pessoal)
Ambos contam que tentam manter uma rotina normal, apesar dos ataques.
“O clima aqui está estranho. Dá para notar o desconforto da população.
Toda vez que soa a sirene, temos que ir pra um ‘bunker’. Mas as escolas e
os escritórios continuam funcionando”, diz Vitor.
No primeiro dia de ataques à cidade, Vitor se escondeu no abrigo de seu
local de trabalho. A população de Tel Aviv tem cerca de um minuto e
meio para se proteger depois que soa a sirene de emergência – bem mais
do que os moradores do sul do país, mais perto de Gaza, que chegam a ter
uma margem de 15 segundos para se abrigar.
“Um minuto e meio parece pouco, mas é bastante tempo. Ficamos lá por uns dez minutos e depois seguimos trabalhando”, conta.
No Brasil, seus pais e suas irmãs ficam preocupados, mas, segundo ele, sabem que ele está "em uma zona com menos perigo".
Sua namorada é reservista do Exército israelense e está aguardando para
ver se será ou não chamada para engrossar o contingente na fronteira.
Depois dos ataques, Israel deixou 75 mil reservistas em alerta e iniciou
a incorporação de outros 16 mil.
Os dois já separaram uma mochila com casacos, garrafas de água e um
jogo de tabuleiro, caso ocorram vários ataques seguidos e tenham que
ficar algumas horas no abrigo. “Mas acredito que não será necessário
tomar nenhuma atitude mais drástica”, diz Vitor.
'Acostumado'
Gabriel Paciornik já perdeu a conta de quantos conflitos vivenciou
desde que chegou a Israel – acha que quatro ou cinco – e diz que, por
isso, está mais acostumado ao problema.
A família no Brasil também não se abala em excesso. “A gente
desenvolveu um sistema de comunicação bem claro. Eles sabem que eu sou
totalmente franco em relação ao perigo ou não de cada situação”, diz.
Gabriel Paciornik e Bárbara Blank
(Foto: Arquivo pessoal)
Mas Gabriel conta que, no primeiro dia em que soou o alarme, foi uma
surpresa na cidade. “A maior parte das pessoas não sabia o que fazer.
Quem mora no sul é mais treinado, mas os habitantes de Tel Aviv não
estão acostumados com isso", diz Gabriel.
Ele afirma que outros brasileiros que moram no país há menos tempo que
ele estão mais temerosos e "sem saber como agir e o que fazer”.
Toda vez que o alarme toca, Gabriel e a esposa - que trabalham em casa -
se protegem na sala, que fica longe da janela e por isso é mais segura.
A TV fica ligada o tempo todo. Sempre que uma bomba é interceptada pelo
“Iron Dome”, as imagens do foguete sendo destruído são exibidas ao
vivo. “A gente vê o 'troço' saindo do lança-mísseis, passando pelo sol e
explodindo o foguete no ar. Dá para escutar o ‘boom’ do lado de fora,
as janelas tremem. É como se um caminhão pesado passasse na rua”, conta.
No entanto, no dia em que houve o primeiro ataque, ele e Bárbara
decidiram sair para um bar logo depois. "A vida continua. A a gente tem
que trabalhar, se divertir”, afirma.
Histórico do conflito
No dia 14 de novembro, uma operação militar israelense matou o chefe do
braço militar do grupo Hamas na Faixa de Gaza, Ahmed Jaabali. Segundo
testemunhas,
ele dirigia seu carro quando o veículo explodiu. Seu guarda-costas também morreu.
Israel afirma que Jaabali era o responsável pela atividade "terrorista"
do Hamas - movimento islâmico que controla Gaza - durante a última
década. Após a morte, pedidos imediatos por vingança foram transmitidos
na rádio do Hamas e grupos militantes menores alertaram que iriam
retaliar. "Israel declarou guerra em Gaza e eles irão carregar a
responsabilidade pelas consequências", disse a Jihad Islâmica.
No dia seguinte à morte de Jaabali, foguetes disparados de Gaza mataram
três civis israelenses, aumentando a tensão e ampliando o revide aéreo
de Israel - que não descarta uma operação por terra. Os bombardeios dos
últimos dias, que já atingiram a sede do governo do Hamas na operação
chamada de "Pilar defensivo", são a mais intensa ofensiva contra Gaza
desde a invasão realizada há quatro anos na região, que deixou 1.400
palestinos mortos e 13 israelenses.
Acredita-se que a metade dos mortos sejam civis, o que desperta
críticas à ação de Israel. O país alega que os membros do Hamas se
escondem entre a população civil.fonte:g1 sp/jardim das oliveiras blog