DE SÃO PAULO/jardim das oliveiras camocim ceara
Caso um e-mail de antonio.fagundes@gmail.com chegue à sua caixa de entrada, pode ser de Antônio Augusto Fagundes, o chefe da comitiva equina Cavaleiros da Paz, em Alegrete (RS), ou de Antonio Alves Fagundes, dono de uma cantina escolar em Curitiba. Mas não do ator Antonio Fagundes.
Aos 64 anos, Fagundão é um "analfabyte" ("Não tenho computador, não tenho e-mail, não tenho celular esperto") por escolha. Para ele, há duas opções de vida: "Ou você passa o tempo todo limpando sua caixa de e-mail ou vai fazer outras coisas, ler, trabalhar".
"Quando Eu Era Vivo"
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Sandy cena do filme "Quando Eu Era Vivo"
Optou por fazer outras coisas. Várias outras coisas. De setembro de 2012 a setembro de 2013, foram duas novelas (está em "Amor à Vida", folhetim das nove da Globo que chega ao fim nesta sexta), duas peças e dois filmes. "Mesmo com a idade, ainda dá para trabalhar bem."
E dá para se aventurar também: ele comprou a ideia de protagonizar um filme de terror de baixo orçamento, "Quando Eu Era Vivo", que estreia em 31 de janeiro. O longa de Marco Dutra é baseado em "A Arte de Produzir Efeito sem Causa", romance de Lourenço Mutarelli, autor de obras "underground", como "O Cheiro do Ralo" e "O Natimorto".
"Sou fãzoca do trabalho do Mutarelli. HQs, livros, roteiros", conta. Cruzou com a mulher dele numa livraria e contou que era fã do marido. Dias depois, recebeu a ligação convidando para dar vida a um personagem mutarelliano. "Eu adorei!", diz com um tom de voz que lembra o coronel José Inocêncio (da novela "Renascer", de 1993).
No longa, ele faz o senhorio que aluga um quarto para uma estudante de Uberaba, com quem mal se encontra. Mas, ao contrário do que se vê na tela, ele a atriz que interpreta a guria têm proximidade. "A Sandy é uma querida. A gente se conhece, a Dinah, minha filha [hoje com 33 anos], é fã e eu ia a shows dela. Tenho uma relação bem carinhosa com ela."
A atuação da cantora, que inclui cenas de ritos satânicos, foi "muito boa" em sua avaliação. Sandy, grávida e de férias, não pôde lhe retribuir a cortesia, mas já declarou que era um prazer trabalhar com "o maior ator do país".
Quase todas as cenas foram gravadas num apartamento da avenida São Luís, no centro de São Paulo, onde começou a carreira que está prestes a completar meio século. "Comecei no teatro de Arena, ali do lado. Muito da minha adolescência e começo da vida adulta começou na região. Filmar lá foi uma volta. Gostei muito", diz, puxando a calça.
Fagundão pode se dar ao luxo de usar meias azuis com desenhos de placa de trânsito sob o tênis Conga e ser levado a sério. "Sou muito pontual e exijo pontualidade de quem trabalha comigo."
Ou além: a entrevista marcada para as 17h no teatro foi movida para 16h30 porque o ator chegou antes ao teatro, em Perdizes -minha primeira entrevista em dez anos a ser adiantada.