''Nada mudou, exceto tudo", diz Tony Ramos
FOTO: LEO MARTINS
Como Nil, da novela 'Champagne' (1984)
Em 'Belíssima' (2005), vive o grego Nikos Petrakis
Em 'As filhas da mãe' (2001), é o cubano Manolo Gutiérrez
Em 'O astro' (1977), Tony viveu Márcio Hayala
Na minissérie 'Grande Sertão Veredas' (1985) baseada no clássico de Guimarães Rosa, vive o cangaceiro Riobaldo
Em 'Rainha da Sucata' (1990), é Eduardo, um playboy decadente
O ano foi "muito particular" para Tony Ramos. Em maio, entrou em cartaz "Getúlio", filme sobre o estadista Getúlio Vargas, do qual ele foi protagonista. Em junho, o ator completou 50 anos de carreia. Em julho, estreou "O rebu", novela na qual viveu o vilão Carlos Braga, um dos personagens centrais. E ainda não acabou.
"Não contente, fui convidado pelo Ruy Guerra para sua volta ao cinema, com o longa 'Quase memória', após nove anos. Então, fecho 2014 com muita alegria", resume Tony, que interpreta Carlos, um jornalista que passa a ter a sensação desagradável de perda de memória.
Aos 66 anos, ele brinca que já está completando 50 e meio de profissão agora. E demonstra ter viva em sua lembrança detalhes dessa trajetória. Tanto, que sabe bem quais são os seus personagens mais marcantes.
Ao falar sobre os tipos que viveu, Tony também recorda momentos marcantes de sua vida pessoal naqueles períodos. O que o faz lembrar do dia exato em que assinou a sua carteira profissional.
"Foi em 29 de junho de 1964. Fazia teatro amador em São Paulo e, no final de 1963, me convidaram para participar de um programa de talentos ao vivo na TV Tupi chamado "Novos em foco". Era dirigido, apresentado e escrito por João Ribeiro Filho. Ganhei de todo mundo e acabei sendo contratado. Tenho uma lembrança emocionada, até porque fazer ao vivo não é para qualquer um", destaca ele.
De lá para cá, foram 140 personagens na televisão, 32 no teatro e 29 no cinema. A serviço dos papéis, ele teve barba rala, encorpada, bigodinho, bigode grosso, cabelos longos, curtinhos, topete, costeleta... E as mudanças não foram só na caracterização.
"Nesses anos, nada mudou, exceto tudo. Você muda a idade, muda o corpo, muda a maturidade. Que bom que é assim. Já pensou se eu fosse um bobão que, após 50 anos de profissão, continuasse com o mesmo pensamento? Sempre fui um ator que quis evoluir na profissão", pontua Tony: "Mas minha vida pessoal com a minha companheira, essa é única, também muda, mas muda para melhor".
Casamento
Foi sua mulher, Lidiane, inclusive, quem organizou a festa de comemoração pela carreira cinquentenária - "Cinquenta anos não são cinco", frisa Tony -, em julho. "Ela providenciou tudo. Somou meu aniversário (em 25 de agosto), meus 50 anos de carreira, o encerramento das gravações de 'O rebu' e o dia que a TV Globo exibiu o filme "Getúlio", então foi uma comemoração múltipla", observa.
Tony e Lidiane se conheceram em 1965, numa festa do colégio Brasílio Machado, em São Paulo, onde estudavam. Ele tinha 17 anos, e ela 15. Casaram-se em 1969. E lá se vão 45 anos...
"Olha, se eu tivesse receita para um casamento bem sucedido, eu venderia. Mas não existe. É um exercício de vida, de respeito e afeto mútuos, de amor cotidiano", ensina ele.
A afinidade permanece. Apaixonados por viagens - a última foi para a Nova Zelândia e para a Austrália, em março - costumam escolher juntos os destinos. Quando estão sozinhos em casa, vão os dois para a cozinha. "Mas deixo o comando com ela, que cozinha dez vezes melhor do que eu. Faço, no máximo, um molho para a salada", afirma.
Bom moço
A falta de habilidade com as panelas deve ser dos poucos defeitos de Tony, pode-se pensar. Ele construiu a carreira vinculada aos substantivos correção, compromisso e generosidade. Mas o ator faz questão de desfazer o mito:
"Todos temos defeitos. Mas meus defeitos não estragam a vida de pessoas, não prejudicam ninguém. Sou muito desorganizado com papéis, irritadiço com barulho. E não suporto a soberba, a intolerância, o preconceito, a inveja, a competitividade. Da minha vida fazem parte respeitar o próximo, tocar meu barco e não prejudicar ninguém", frisa.
Tony também nega o título de "unanimidade" que muitos o atribuem. " Com certeza alguém que vai ler essa matéria e pensar 'Nossa, que cara chato! É metido a ter imagem de bom moço'. Não existe essa coisa de unanimidade. Eu não espio a vida alheia, cuido da minha".
Se ver na TV também não é coisa que o ator gosta de fazer: "Todo ser humano tem que ser autocrítico, senão, perde a noção do ridículo. Só me assisto quando é estreia. Não vejo depois para não querer fazer as cenas de novo, para não ser exigente demais. O olho do diretor é o olho do espectador. Se ele disse que valeu, eu confio".
Trajetória
Nascido em Arapongas, no Paraná, por circunstância - o pai estava trabalhando na cidade -, Tony se mudou com a família para Ourinhos, em São Paulo, aos 5 meses, onde cresceu. Se interessou por atuar ainda menino, assistindo aos filmes do ator e comediante Oscarito (1906-1970), espanhol radicado no Brasil.
"E, a partir dos 18, 19 anos, me encantei por Antonio de Curtis, o Totó, um grande e inesquecível ator italiano. São duas linhas de interpretação e dois tempos dramáticos que eu sempre admirei", conta ele.
Formou-se na prática: aos 16 anos, participou da dupla musical Tony e Tom & Jerry, que chegou a se apresentar no programa "Jovem guarda", da Record, comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Aos 21, no final da década de 1960, já tinha um papel grande na novela "Nino, o italianinho", na Tupi. E não parou mais.