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sábado, 31 de maio de 2014

MORADORES DE RUA EM FORTALEZA:A QUESTÃO NÃO É SIMPLES.


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Ontem saiu a notícia de que o jornalista dinamarquês que havia ido embora do Brasil por presenciar coisas desagradáveis por causa da Copa do Mundo lançou um documentário sobre o que viu. Um tanto mambembe, quase caseiro, o curta metragem mostra o impacto das ações governamentais para a Copa nas cidades de Fortaleza e Rio de Janeiro.
Remoções, desalojamentos, obras e até uma denúncia de grupos de extermínio atuando na matança de moradores de rua a fim de fazer uma “limpeza” urbana são mostrados no filme, que eu recomendo que vocês assistam.


Nada disso é novidade.
Mas também não é por isso que devemos tratar como “natural”, “é assim mesmo”, “bola pra frente, já que a coisa é feia mesmo”. Não. É importante lembrarmos que no Ceará as coisas sempre foram assim, mas que há motivos por trás disso. Não é por mágica. O problema é nossa herança coronelista, que ainda permeia alguns pensamentos e atitudes no interior e na capital.
Os justiceiros de Facebook, os supostos grupos de extermínio, os matadores de aluguel, todos são reflexo do passado coronelista. O fazendeiro, o coronel, quando suspeitava que alguém estava roubando em sua propriedade (roubo até de frutas ou animais mesmo, qualquer besteira), mandava o capanga ir atrás do “cabra” e “fazer o serviço” pra “servir de exemplo”. Sem processos judiciais, sem investigação criminal, sem polícia, sem nem saber se o suspeito era culpado mesmo. Do jeitinho que o pessoal quer agir hoje em dia, andando pra trás na História.
Entender as raízes do problema pra tentar resolvê-lo. 
A culpa de haver tantos moradores de rua e “vagabundos”, pra usar as palavras que muitos usam, não é de programa social nenhum, de governo algum. É uma situação complexa, feita de dimensões social, antropológica, política, urbanística, psicológica, ambiental e econômica.
Que há essa política do “tá me incomodando, vou apagar” em Fortaleza, há. Basta uma pesquisa rápida pra perceber. Claro que há também brigas entre os próprios moradores de rua, acertos de contas, rivalidade etc. Mas você nem precisa acompanhar jornais com tanta frequência pra lembrar que aqui, as notícias sobre assassinato ou maus tratos a moradores de rua se repetem diversas vezes. Um apanhado de notícias na Tribuna do Ceará de 2010 até hoje, só como aperitivo… (clique para ampliar)
morador de rua assassinato fortaleza exterminio
E esses são apenas os que são noticiados. Muitas vezes, não dá tempo nem da imprensa tomar conhecimento. Não se pode acusar apenas o governo de cometer esse tipo de crime, pois o envolvimento das vítimas com criminosos e drogas é o que motiva muitos desses assassinatos e agressões.
Acredito que a falta de perspectivas futuras e a ausência de laços sociais fortes são os obstáculos mais difíceis de transpor ao se tentar tirar as pessoas da situação de rua. Muitas ONGs, projetos sociais, voluntários e programas municipais tentam fazer sua parte distribuindo comida, agasalhos, fornecendo abrigo temporário, cursos, oficinas, ocupações… mas não é fácil. Muitos voltam pra rua por vontade própria. Não é que estas ações sejam falhas ou inúteis. Nada disso. O problema é a complexidade do cenário. Vários motivos levam pessoas às ruas: falta de dinheiro para uma moradia, ter vindo do interior em busca de emprego e não ter conseguido, ter sido expulso de casa por problemas familiares (drogas, bebida, prostituição, família que não aceita o(a) filho(a) homossexual), herança mal partilhada, em que alguém da família é totalmente prejudicado, crianças órfãs e sem família que as possa acolher, pessoas com problemas mentais cuja família não consegue lidar com eles, e a lista segue quase infinita.
A resolução da situação dos moradores de rua é tão complexa quanto o problema. E é assim mesmo. Soluções simples ou simplistas como “extermina, acaba com eles” a gente deve logo desconfiar que não servem, pois são desproporcionais, denunciam total falta de estratégia e são inconsequentes.
Tenho a solução?
Não. Mas o objetivo do texto enorme é pedir que a gente reflita. Compartilhar Tv Revolta, comentar em portal de notícias esbravejando xingamentos e clichês não resolve nada.
Antes de dizer ” vive na rua porque quer, ganhando bolsa não sei quê, tudo vagabundo”, pense em você mesmo e nas pessoas que conhece. E se aquele rapaz que veio do interior não tivesse família em Fortaleza pra lhe dar abrigo e comida, como teria conseguido um emprego pra hoje ser bem sucedido? Aquelas crianças órfãs que a vizinha “pegou pra criar”, pra onde teriam ido se ela não fosse generosa e providenciasse escola, comida e teto pra eles? Esse tipo de exercício dá um nó na cabeça, né? Pois é. Já dizem por aí… viver dói. Pensar dói mais ainda, e dá um nó danado na cabeça, mas vale a pena demais! Livra a gente de cometer injustiças bobas, de pensar pela cabeça dos outros, repetindo que nem papagaio um monte de miolo de pote, e nos livra também da falta de argumentos, essa coisa tão comum nos comentários de internet…
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