Mulheres 'recrutadas' chegavam a transportar nas partes íntimas cerca de 1 kg de drogas por mês
Rio - A Polícia Civil fez uma operação nesta terça-feira para prender uma quadrilha especializada em levar drogas para os presídios do Complexo de Bangu. No organograma do grupo, duas mulheres tinham papéis-chave no esquema. Elas eram chamadas de ‘tias’ e recrutavam mulheres nas portas das cadeias para entrar com maconha e cocaína na vagina. Para servirem de ‘mulas’, elas ganhavam entre R$ 400 e R$ 800. O dinheiro pago dependia da ‘capacidade’ de transporte de cada mulher recrutada.
Foi justamente este fato inusitado que motivou que a operação fosse batizada como Sob Medida. De acordo com o delegado José Luiz Duarte, da 44ª DP (Inhaúma), as investigações duraram oito meses. Nesta terça-feira, foram cumpridos 26 de 34 mandados de prisão — 10 pessoas cumpriam pena por outros crimes —, e 26 de busca e apreensão. Pelo menos 30 celulares foram recolhidos em uma das casas vistoriadas e dois tabletes de maconha. Cerca de 250 policiais participam da ação, além de um helicóptero.
Escolhida na fila
A ‘mula’ era parada na fila do presídio e recebia a proposta de Tia Cláudia (Claudia Morais). “Se ela aceitasse, era agenciada. A mulher, então, era levada a Tia Katia (Kátia Maria dos Santos), a responsável por fazer as cápsulas de drogas. Era ela também que introduzia o material na mulher, até chegar a um ponto que ela entendia que era o limite de transporte (da mula). Então, assim sabia-se: vão 150 gramas, 200 gramas, porque elas tinham balança de precisão.”
Tia Claudia, que também era ‘mula’, morava em Campo Grande e era casada com outro preso na operação, Alex. Ele tinha deixado a cadeia faz dois meses. Lá, ele cumpria pena por roubo.
Gravações telefônicas
A Polícia Civil fez, com autorização da Justiça, escutas telefônicas durante a fase de investigação da quadrilha. O grupo usava celulares dentro das cadeias. Numa das interceptações, Tia Kátia conversa com Tia Cláudia sobre o que seria droga no presídio. O açúcar, segundo a polícia, seria cocaína.
—Kátia: “Tu vai levar açúcar?”
—Cláudia: “Não”.
—Kátia: “Vai não? Então, eu vou só pedir para você levar um quilo de açúcar pra mim e, fazendo um favor. Um quilo de açúcar pro (sic) meu filho.”
Numa outra gravação, Cláudia conversa com uma mulher sobre a qualidade da droga, que teria chegado ao seu parceiro.
—Cláudia: “Não”.
—Kátia: “Vai não? Então, eu vou só pedir para você levar um quilo de açúcar pra mim e, fazendo um favor. Um quilo de açúcar pro (sic) meu filho.”
Numa outra gravação, Cláudia conversa com uma mulher sobre a qualidade da droga, que teria chegado ao seu parceiro.
—Cláudia: “Meu marido falou que tá (sic) muito boa”.
—Mulher: “Tu ainda não pegou a boa, mesmo, que foi a primeira que chegou. Porque a outra que tinha tava (sic) sem semente nenhuma, sem galho nenhum. Tava (sic) muito boa.
—Mulher: “Tu ainda não pegou a boa, mesmo, que foi a primeira que chegou. Porque a outra que tinha tava (sic) sem semente nenhuma, sem galho nenhum. Tava (sic) muito boa.
Cadastro de acordo com a capacidade
A quadrilha tinha um cadastro numa agenda com a ‘capacidade’ que cada mulher conseguia carregar nas partes íntimas. Na casa de Tia Kátia, na Vila Kennedy, era feita a confecção das cápsulas, embaladas num papel-alumínio com fita adesiva, e as anotações feitas dos testes nas recrutadas. Pelo transporte de 100 gramas de maconha, pagavam-se R$ 400. Quando a droga era cocaína, a mula conseguia ganhar um valor maior. “Ela colocava na agenda dela, após o teste na mula, o nome e o que podia carregar”, afirmou o delegado José Luiz Duarte. Ele ressaltou que os agentes penitenciários não participavam do esquema.
A polícia acredita que cada mulher conseguia entrar com até um quilo de droga por mês nos presídios, principalmente o Instituto Penal Vicente Piragibe.
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