De Madri para a BBC Brasil
O brasileiro Kayke Luan Ribeiro Guimarães, de 18 anos, preso na Bulgária acusado de envolvimento com terrorismo, foi extraditado hoje à Espanha e já prestou o primeiro depoimento à justiça espanhola, informou o tribunal espanhol Audiencia Nacional à BBC Brasil.
Depois de ouvi-lo, o juiz Santiago Pedraz decretou a prisão incondicional de Kayke, sem direito a fiança, e irá julgá-lo por delito de integração em organização terrorista, com pena prevista de seis a 12 anos de cadeia. Ele será julgado por esse tribunal, que lida apenas com as acusações mais graves do país, como terrorismo, narcotráfico e crime organizado.
O jovem foi preso no dia 15 de dezembro de 2014 na fronteira da Bulgária com a Turquia quando, ao lado de dois marroquinos, estaria a caminho da Síria para se alistar no grupo radical autodenominado "Estado Islâmico".
Fontes diplomáticas informaram à BBC Brasil que o Itamaraty foi avisado por telegrama no fim da tarde de quinta-feira que Kayke seria transferido na madrugada desta sexta-feira.
Na Espanha, as autoridades se negaram a passar qualquer informação sobre a transferência do brasileiro "por motivos de segurança de Estado e segredo de julgamento", mas confirmaram a extradição e o depoimento no início da noite de sexta-feira.
Ainda segundo a Audiência Nacional, Kayke foi encaminhado para o Centro Penitenciário Madrid 5, em Soto del Real, onde esperará julgamento.
Goiano nascido da cidade de Formosa, a 75 km de Brasília, ele vive há cerca de dez anos em Terrassa, subúrbio de Barcelona. Segundo os Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, o jovem vinha sendo investigado desde junho por frequentar reuniões de grupos radicais islâmicos nos arredores da capital.
Fontes do Itamaraty informaram à BBC Brasil que Kayke negou ser um extremista e reafirmou que estava apenas indo à Turquia de férias. Mas, para a família, o jovem tinha dito que ia de férias para a ilha mediterrânea de Maiorca.
Assustada, a família não quis falar com a BBC Brasil.
Conversão ao Islã
Kayke confirmou às autoridades diplomáticas brasileiras que tinha se convertido ao Islã, mas "apenas para se casar". Entretanto seu estado civil na Espanha consta como "solteiro".
Ele ficou preso durante mais de um mês no Centro de Segurança de Haskovo, a quatro horas de Sófia, um presídio exclusivo para criminosos de alta periculosidade e envolvidos em casos relacionados à máfia e terrorismo. Durante o período, não pôde receber telefonemas — nem mesmo das autoridades brasileiras — e só podia realizar uma ligação a cada sete dias.
No dia 18 de dezembro, ele recebeu uma visita consular e pediu produtos de higiene básicos e cobertores. A embaixada forneceu também uma "pequena quantidade de dinheiro" para que ele pudesse comprar fichas telefônicas e falar com a família, além de um remédio para asma, já que o rapaz estava sofrendo com fortes crises asmáticas pelo frio dentro da prisão.
O governo brasileiro informou que não vai intervir nas investigações e apenas está prestando assistência consular.
No ano passado, o caso do belga Brian De Mulder teve destaque no Brasil. Filho de uma brasileira, ele está na Síria desde janeiro de 2013 lutando com o grupo "Estado Islâmico".
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