Prefeituras alegam que distância da Capital e baixa remuneração afastam médicos de municípios distantes
Salitre/Crateús. A carência de médicos para contratação no Cariri tem sido maior principalmente nos municípios de menor porte e mais distantes, a exemplo de Salitre, a 520 Km da Capital. Das seis equipes do Programa de Saúde da Família (PSF), mais de 33% do serviço deixa de ser cumprido pela falta desses profissionais para contratação.
No Hospital Regional do Cariri (HRC), foram contratados 200 médicos, mas houve dificuldades para encontrar anestesistas Foto: Elizângela Santos
O salário oferecido é de R$ 10 mil. A cidade fica a mais de 190 quilômetros de Juazeiro do Norte e a 14 da divisa com o Piauí. O problema se torna maior quando se trata de médicos plantonistas, que não estão dispostos a cumprir um plantão por R$ 1 mil líquidos. Nas cidades mais próximas, como Antonina do Norte, Campos Sales, Araripe, o valor bruto de um plantão sobe para R$ 1.400,00.
Para a secretária de Saúde de Salitre, Júlia Cristina de Sá Roriz, o Programa Mais Médicos que está sendo sugerido pelo governo federal, não será solução para o problema, pois a grande dificuldade tem sido a distância. "Ninguém vai querer deixar de ganhar R$ 10 mil no Crato para ter que se deslocar para Salitre e receber o mesmo valor", avalia.
Em Juazeiro do Norte, a 495 Km da Capital, a implantação do Hospital Regional do Cariri (HRC) preencheu uma lacuna para os atendimentos de urgência, emergência e diversas especialidades. Foram contratados mais de 200 médicos, mas a principal dificuldade foi levar anestesistas. Segundo o diretor de processos assistenciais, Sérgio Araújo, há a mesma situação com pediatras, mas o HRC não atua nessa área. Conforme o médico, a assistência está mais voltada para cirurgiões generalistas. O atendimento em neurocirurgia se encontra em fase de implantação na unidade. Neste caso, de acordo com Araújo, há vários médicos na região, que podem fazer parte do quadro.
Para Séfora Castro, da Atenção de Estratégia da Saúde Familiar, da Secretaria de Saúde do Crato, o município conta atualmente com 33 equipes de saúde da família, mas duas delas continuam sem médicos. O problema tem sido amenizado com os profissionais contratados pelo Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab). São 11 no município. O salário é de R$ 8 mil líquidos.
Em Salitre, há apenas um profissional do Provab. "A nossa luta é para inserir mais profissionais desse programa em nosso quadro, no intuito de proporcionar um melhor atendimento", diz a secretária Júlia Cristina. Mesmo com o Provab, segundo ela, algumas cidades mais distantes acrescentam cerca de R$ 1.500 de complemento, para se tornar mais aprazível.
Crateús
A dificuldade na contratação de médicos para atuação no serviço público é vivida, também, em Crateús, a 360 Km de Fortaleza.
Para o secretário de Saúde do município, Humberto César Frota, a distância da Capital é um dos principais empecilhos, bem como a falta de profissionais.
O município, de médio porte e referência em Saúde na região, atualmente, segundo o titular da Pasta, tem mais médicos. "Continuamos com dificuldades, mas já enfrentamos problemas maiores na contratação de médicos. Com o Provab, a situação melhorou", frisa Frota.
Carência
No município de Tauá, a 344 Km da Capital, das 20 equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), quatro estão sem profissional médico, de acordo com dados da Secretaria de Saúde.
De acordo com a secretária municipal de Saúde, Ademária Timóteo, "não há uma má distribuição, falta médico na Capital também. A demanda é bem maior que a oferta e é um problema antigo".
A gestora destaca, ainda, que especialistas também são escassos para atuar no sistema local de saúde e na Policlínica. Dada a carência de profissionais médicos especialistas os atendimentos ocorrem de forma mensal, em alguns casos e, em outros, de forma quinzenal, fato que não supre a demanda da região.
Em Quiterianópolis, a 410 Km de Fortaleza, a precariedade do sistema local é a mais evidente da região, dado o histórico baixo número de médicos (0,35 por mil habitantes). Junto com Ipueiras - também nesta região - está entre os dez municípios cearenses com menos profissionais de Medicina.
O prefeito de Quiterianópolis, José Barreto Couto Neto, que é médico, conhece bem essa realidade do Interior. Ele também enumera a distância da Capital, a baixa remuneração e a precariedade do sistema como os fatores principais da falta destes profissionais no município.
Gestores propõem cursos de Medicina
Quixadá. Atendimentos com carência de médicos nos hospitais e postos de saúde. Pacientes reclamando da demora nas filas. Dificuldades para realizar exames complexos. Transferências de emergência para o Instituto José Frota (IJF), em Fortaleza. Essa é a realidade cotidiana nas cidades do Centro do Estado. Os problemas vão da falta de recursos financeiros à carência de profissionais, reclamam os gestores municipais do Sertão Central.
Devido à falta de médicos em diversas cidades do Interior, gestores enviam para o Instituto José Frota (IJF) grande parte dos pacientes FOTO: NATINHO RODRIGUES
Apostando na solução futura para essas carências, tanto Quixadá quanto Quixeramobim lutam pela implantação de cursos de Medicina. No primeiro município, a Faculdade Católica Rainha do Sertão aguardava parecer do Ministério da Educação.
Na cidade vizinha, os vereadores promoveram uma audiência pública com o objetivo de unir esforços para implantação do curso através de uma universidade pública. Em breve, o Hospital Regional do Sertão Central, unidade de alta complexidade, em construção em Quixeramobim, necessitará de pelo menos 200 médicos, explica o prefeito interino Clébio Pavone.
Para o gestor, não há como equacionar o problema sem recursos financeiros e sem profissionais. Na avaliação dele, os repasses federais não são suficientes para custear as despesas de assistência à saúde. No lugar, um médico plantonista cobra entre R$ 1.500 e R$ 2.000 por plantão. Mesmo assim, preferem a comodidade da periferia da Capital recebendo um pouco menos.
Exames
A metade do valor de um plantão, R$ 1.000, resolveria o problema da auxiliar doméstica Francisca Paula Barros. Uma filha necessita de uma ressonância magnética. Hoje, a menina tem 14 anos, mas o primeiro exame foi solicitado quando ela apresentou os primeiros sintomas epilépticos, aos 11 anos. Segundo a mãe, a demora está na fila de espera para realização do exame. Faltam equipamentos e respeito à população, reclama.
A secretária de Saúde de Pedra Branca, Ana Paula Vieira, também enfrenta carências. Falta um médico para integrar uma equipe de PSF e pelo menos três para o Hospital Municipal. Houve até oferta de R$ 10.500 para um plantonista. A vaga ainda está aberta.
ELIZÂNGELA SANTOS/SILVÂNIA CLAUDINO/ ALEX PIMENTELREPÓRTERES/COLABORADOR
fonte:Diário Regional/jardim das oliveiras camocim ceara
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