De Genebra, para a BBC Brasil/jardim das oliveiras camocim ceara
Os suíços decidem neste domingo se aprovam ou não uma iniciativa "contra a imigração em massa". A proposta polêmica foi feita pelo Partido Popular Suíço (SVP, em alemão), de direita, e prevê cotas anuais de vistos para os vizinhos de países europeus viverem na Suíça.
Apesar de não ser parte da União Europeia desde 1999, a Suíça possui acordo de livre movimento de pessoas com os países do bloco. O que significa que europeus podem viver de três a seis meses na Suíça sem visto e, se tiverem um emprego, tem direito à residência no país sem restrições. Para cidadãos de outras nações do mundo já existem cotas de imigração em vigor.
A tendência crescente de "portas fechadas" à imigração é vista com preocupação por especialistas e suíços ouvidos pela BBC Brasil.Até 2015, outros dois referendos sobre imigração devem acontecer no país. O grupo verde Ecopop planeja limitar a imigração a 0,2% do crescimento populacional do país e os suíços também deverão votar pela inclusão da Croácia no acordo de livre movimento assinado com a União Europeia.
Cerca de 1,87 milhão de pessoas ou 23% da população total da Suíça hoje é composta por imigrantes, segundo dados oficiais do governo. É a maior porcentagem entre os países da Europa e corresponde à entrada de aproximadamente 63 mil estrangeiros em território suíço por ano. Italianos, alemães e portugueses são os maiores grupos.
Tensão
Para o professor de políticas migratórias da Universidade de Neuchâtel, Etienne Piguet, o debate sobre imigração reflete crescente mal-estar sobre o assunto e a tensão com a UE.
Segundo ele, nos últimos 40 anos, estes referendos têm acontecido a cada cinco ou dez anos e estão relacionados ao sistema de democracia direta e ao fato de a Suíça ser um país que acolhe muitos imigrantes.
"Mas o mal-estar da população suíça em relação à imigração está crescendo. A situação há cinco anos era mais aberta", afirmou Piguet.
Para o especialista, se a iniciativa for aprovada, as consequências seriam grandes para a Suíça, mas a maior parte não impactaria diretamente a imigração.
"A iniciativa prevê cotas, mas não o nível delas, então, elas podem ser altas e a imigração continuar aumentando. Mas o fim da imigração livre com a Europa significa provavelmente o fim de muitos outros acordos com a União Europeia, como parcerias científicas comerciais, acadêmicas. E isso é extremamente delicado", disse.
Segundo ele, a imigração tem atingido níveis altos nos últimos anos e a Suíça tem sido um país afortunado em meio à crise econômica europeia.
"Mas é cada vez mais difícil encontrar moradia e os transportes públicos estão superlotados. Algumas pessoas atribuem isso à imigração. Está longe de ser verdade, porque tem mais a ver com a economia do país do que com a imigração", afirmou Piguet.
Crise e expansão
A crise econômica e a expansão da União Europeia (em 2014 a Romênia e a Bulgária ganharam direito de livre acesso ao mercado de trabalho do bloco) são vistas como ameaças.
"Os suíços têm medo de que, se a situação piorar em outros países da Europa, mais pessoas venham para cá em busca de emprego. Ninguém quer perder o alto padrão de vida daqui", disse a brasileira-suíça Maria da Graça Almeida Costa, moradora de Genebra há 16 anos desde seu casamento com um suíço de origem portuguesa.
Em 2012, o desemprego na Suíça girava em torno de 3,1%, contra 11% na União Europeia. Altos salários e benefícios sociais generosos também contribuem para atrair imigrantes.
Pesquisa publicada em 29 de janeiro pela consultoria gfs.bern indicava que 50% dos eleitores votariam "não" às cotas e 43% "sim" – um aumento, porém, frente aos 37% de sondagem anterior veiculada em 10 de janeiro.
O governo e as empresas fazem coro contra a iniciativa. Nesta semana, a Câmara Internacional de Comércio da Suíça divulgou um comunicado alertando que as cotas "enviariam um sinal claro contra o livre mercado e prejudicariam as companhias suíças, que contribuem muito para a economia do país".
Representantes de 12 setores empresariais, incluindo tecnologia, relógios e turismo também reclamaram em nota pública sobre a possível perda de mão-de-obra qualificada.
"As consequências seriam devastadoras para nosso mercado de trabalho, que depende de especialistas", afirmou Heinz Karrer, presidente da companhia Economiesuisse.
O ministro da Economia suíço, Johann Chneider-Ammann disse em entrevista ao jornal local Tribune de Geneve que se os suíços votarem "sim", empregos serão perdidos.
"Os suíços devem votar com suas cabeças, não com seu estômago", disse o ministro.
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