Processo foi aprovado pelo Comphic neste mês e seguiu para homologação do prefeito Roberto Cláudio. Prédio, que irá abrigar centro universitário, já passa por restauração
CAMILA DE ALMEIDA/ESPECIAL PARA O POVO
Apesar de o processo de tombamento não ter sido concluído, o colégio já passa por restauro. A partir de março, o local receberá aulas de seis cursos do Centro Universitário Estácio do Ceará
Grades e fachadas já começaram a receber novas cores, e o prédio que, mais de um século atrás, abriu as portas como sede do Colégio Cearense do Sagrado Coração vai retornando no tempo. Assim, ele deve permanecer. A sede teve a instrução de tombamento aprovada por unanimidade pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza (Comphic), e aguarda receber a assinatura do prefeito Roberto Cláudio para que o processo seja finalizado. A partir da última quinta-feira, 8, o processo tem 120 dias para ser homologado.
O processo teve início em 2013, de acordo com o arquiteto Jober Pinto, coordenador de Patrimônio Histórico e Cultural (CPHC) da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor). A iniciativa veio da Câmara Municipal, através do gabinete do vereador João Alfredo, e do Centro de Apoio do Meio Ambiente do Ministério Público do Estado do Ceará (Calmace). Atualmente, ele exemplifica, o colégio já pode ser considerado “99%” tombado, já que a assinatura do prefeito é dada como certa.
Com o prédio preservado, ficam seguros, além do concreto das paredes, os valores intelectuais e a história da Cidade, avalia Fernando Rocha, 61, frequentador do bairro. “Com o tombamento, o Centro e o povo vão ganhar”, considera o servidor público. Segundo Jober, a importância do colégio para a cidade vêm da arquitetura e da memória social. “Ele é um marco da história da educação da nossa Cidade. É impossível entendê-la sem passar pelas salas de aula do Cearense. E ele tem valor arquitetônico porque foi um marco para a região da cidade que estava crescendo. O edifício de linhas modernistas é um dos primeiros edifícios verticais da Capital”.
Apesar de o processo de tombamento não ter sido concluído, o colégio já passa por restauro. A partir de março, o local receberá aulas de seis cursos do Centro Universitário Estácio do Ceará. O grupo é responsável pela intervenção, que deve, além de assegurar a integridade do prédio, conservá-lo aos moldes de quando foi construído. A reforma foi iniciada no fim do ano passado, e a previsão é de que seja finalizada até o fim deste ano.
“Estamos realizando essas ações de conservação (pintura, troca de material elétrico e hidráulico) mantendo a estrutura, apenas garantindo para que o espaço possa ser utilizado com segurança”, ressalta a professora Ana Flávia Chaves, reitora da instituição. A obra está sendo realizada por etapas, ela explica. Inicialmente, os trabalhos estão no prédio da frente da avenida Duque de Caxias. Também serão reformadas as outras instalações, ela assegura, inclusive a quadra de esportes, localizada em outro quarteirão. “Queremos retomar tudo como era antes”.
Histórico
Três padres diocesanos - Misael Gomes, Climério Chaves e José Quinderé - foram responsáveis pela fundação do Colégio Cearense do Sagrado Coração, em fevereiro de 1913.
Até chegar no atual endereço, a escola teve de se mudar três vezes em seus anos iniciais.
Os irmãos maristas, congregação voltada para a missão de educar, assumiram a escola em 1916, e emprestaram o seu nome para o colégio.
Inicialmente, a instituição era restrita a alunos do sexo masculino. Em meados de 1970, o colégio passou a ser misto.
A Faculdade Católica do Ceará (FCC) foi fundada em 2004 no mesmo prédio do colégio.
Em 2007, o colégio encerrou definitivamente as suas atividades, especialmente devido à queda do número de alunos.
A FCC fechou as portas em 2013, depois de nove anos de atividade. Funcionários foram demitidos e alunos receberam a possibilidade de transferir os cursos.
Saiba mais
Segundo Jober Pinto, tramitam no CPHC três processos de tombamento na Capital. Todos são de residências, ele afirma, localizadas nos bairros Parangaba, Centro e Montese. O valor histórico dos prédios ainda está sob análise.
O processo tem início com a solicitação de qualquer indivíduo ao CPHC. O pedido é avaliado e, se houver interesse histórico comprovado, o processo é aberto e o proprietário é notificado. Nessa etapa, o prédio já está em tombamento provisório.
É elaborada uma instrução de tombamento, com análises cabíveis (no caso de patrimônio imaterial, são analisados, por exemplo, fatores sociais e antropológicos), e esta é submetida ao Comphic. Se aprovado, é enviado ao prefeito.
Por último, o bem é inscrito no Livro de Tombo. A manutenção e o uso são de responsabilidade do proprietário, mas a Secultfor pode fazer, mediante demanda, vistorias.
O estudo de preservação do Colégio Cearense foi elaborado com o apoio de professores e de alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da instituição do Centro Universitário Estácio.
A unidade funcionará em três turnos com seis cursos: Engenharia civil e de produção, Administração, Ciências contábeis, Arquitetura e gestão de recursos humanos. O objetivo é que, após a reforma, o número de cursos chegue a 12.
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