Jovem de 17 anos está na unidade de Cerqueira César (SP).
Ele foi aprovado com a quarta maior nota para o curso.
Fim de ano é motivo de comemoração para milhões de adolescentes brasileiros: é época de prestar vestibular e, se tudo der certo, ser aceito em uma universidade ou faculdade. Foi o que aconteceu com um interno de 17 anos da Fundação Casa em Cerqueira César (SP): o jovem Tales (nome fictício) passou em 4º lugar no curso de engenharia civil de uma faculdade particular da cidade vizinha Avaré (SP).
Em entrevista ao G1, o jovem diz não se sentir a vontade ao falar sobre o que o trouxe à Fundação Casa. Mas, se alegra ao afirmar que a ideia de prestar vestibular veio dele. Ele e a família sugeriram à direção a possibilidade de fazer o exame. “Não só a direção me apoiou, mas todos os profissionais e meus amigos da Fundação Casa. Minha família está muito orgulhosa e feliz. Optei por engenharia civil por ter facilidade com os números”, comenta.
Animado com o fato de começar 2015 fora da fundação e dentro de uma faculdade, o adolescente conta que percebeu a possibilidade de transformação quando internado. Na escola, não tinha interesse nas aulas. “Sempre tive facilidade nos estudos, mas até este momento da vida nunca tive muito interesse. Depois da minha entrada na fundação é que percebi minha capacidade de aprender. Minha forma de ver a vida continua a mesma, só aprendi que nas coisas mais simples estão as melhores coisas da vida. Aprendi a dar valor à família, ao amor e à liberdade. Coisas essenciais na vida.”
Ele cumpre a medida socioeducativa, até o Judiciário considerar que está apto ao retorno para o convívio em sociedade. Caso as aulas comecem e ainda esteja internado, com autorização judicial, ele frequentará as aulas como qualquer outro jovem. “Imagino que todos nós estamos sujeito a sofrer qualquer tipo de preconceito e se alguém falar algo para mim deixe que falem. Porque ninguém é perfeito e todos somos falhos”, comenta sobre a possibilidade de sofrer algum tipo de preconceito.
O adolescente tenta agora financiar a faculdade através do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fiees). Enquanto não tem certeza se conseguirá, ele afirma que pretende o pagar o quanto antes. “A faculdade é um investimento para garantir um futuro onde possa ter condição de dar a mim e a minha família tudo do bom e do melhor, sem recorrer ao mundo de ilusão que é o crime.”
Repercussão na unidade
O fato do jovem ter conseguido acesso à faculdade é motivo de comemoração não só para a família, mas também para a instituição. A coordenadora pedagógica da Fundação Casa deCerqueira César, Rosemeire Pereira e Lourenço, celebra a conquista e acredita que o feito possa incentivar os colegas de classe.
O fato do jovem ter conseguido acesso à faculdade é motivo de comemoração não só para a família, mas também para a instituição. A coordenadora pedagógica da Fundação Casa deCerqueira César, Rosemeire Pereira e Lourenço, celebra a conquista e acredita que o feito possa incentivar os colegas de classe.
“Vi o amadurecimento dele nos estudos. Há um ano ele não tinha interesse nenhum. Se mostrava um aluno inteligente, mas desmotivado. Muitos alunos entram para a fundação defasados, mas não era o caso do Tales – dele. Mas, mesmo quem tem dificuldades consegue, graças as aulas de reforço e toda estrutura oferecida. Fora da fundação, na escola, muitas vezes acaba faltando estrutura e os jovens ficam fora, são ausentes. Acredito que o caso do Tales pode se tornar um exemplo de que a possibilidade existe para quem não desiste”, afirma.
O diretor da fundação, Abaré Pereira da Silva, concorda que o acesso de um colega à faculdade traz motivação aos internos. “Há jovens que chegam sem vislumbrar a possibilidade do poder fazer. Eles às vezes perdem a noção de que podem ser úteis a sociedade. E esse é nosso trabalho, devolver esse adolescente preparado para viver com a família e a sociedade”, explica.
As principais preocupações da vida de Tales serão, daqui a algum tempo, as notas necessárias para se sair bem no semestre. Por enquanto, o jovem apenas sonha com a vida que está por vir. Reconhece a vitória, mas diz que ainda há muito a fazer.
“Eu não sou ninguém para aconselhar os meninos que estão na cida do crime. Cada uma tem a concepção do que é certo e errado. Só falo para que, se tiver algum sonho, que corra atrás e nunca desista. Se houver alguma barreira em seu caminho vá de cabeça erguida”, reflete.
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