ECONOMIA
Atraídos por ofertas, brasileiros são clientes cativos de sites de fora. Mas precisam atentar para alguns cuidados
Os brasileiros estão comprando cada vez mais em portais estrangeiros, principalmente em sites chineses. De acordo com dados da consultoria E-bit, compras feitas em lojas virtuais orientais cresceram 32% entre 2012 e 2013 no Brasil. No ano passado, foram registradas 20,8 milhões de encomendas vindas de fora do País. O motivo da procura está relacionado aos baixos preços ofertados pelos portais estrangeiros, que perceberam o apetite do consumidor nacional.
Mas alguns cuidados devem ser tomados na hora de encher o carrinho. Dentre os principais estão a idoneidade da loja virtual, se há reclamações anteriores de outros clientes, o prazo de entrega dessas empresas, tributação e outros tipos de problemas que podem surgir. De acordo com o analista de sistema de informação Rodrigo Coifman, as transações que devem ser evitadas são compras em sites que possam expor dados pessoais; páginas que não possuam boa logística e que têm produtos retidos junto à Receita Federal.
"Alguns sites podem ser iscas para receber dinheiro de forma fraudulenta. Outros têm os dados dos clientes vazados, gerando uso indevido por terceiros. Quando se fala em segurança da informação classificamos os problemas que poderíamos ter com esse tipo de transação e classificamos em riscos críticos, importantes e mínimos", ressalta.
Consumidora de produtos importados há seis anos, a estudante de Direito Raquel Dias opta por comprar maquiagens, cosméticos em geral e roupas em sites estrangeiros. Ela afirma que os preços nesses portais são menores do que os de produtos similares vendidos no País. "Encontro itens até 70% mais baratos. Comprei xampu e condicionador por US$ 24, os dois. Caso fosse no Brasil, só o xampu saía por R$ 160 reais".
De acordo com Raquel, o preço é a principal vantagem desse tipo de mercado, além da comodidade. Entre as desvantagens, cita o atraso na entrega dos produtos e os riscos de transações na internet, como receber um produto diferente do que o solicitado ou ter dados pessoais clonados. "Uma vez, comprei um vestido para a minha sobrinha. Na foto, o vestido era lindo. Quando chegou, era horroroso, com material de péssima qualidade. Há um tempo, tive um cartão de crédito bloqueado. Não posso dizer que foi durante uma compra em um site, mas também não posso descartar a possibilidade, já que a internet facilita essa prática", revela.
Para evitar que a compra se transforme em um verdadeiro pesadelo, existem algumas atitudes que podem ajudar. A primeira é pesquisar. A receita é infalível. "A pesquisa é fundamental na hora de realizar qualquer transação na internet", diz Coifman. De acordo com o especialista, existem alguns passos que o usuário pode seguir para evitar uma "compra furada": procurar lojas conhecidas e com divulgação em outras mídias ou indicadas por amigos e parentes que já efetuaram uma compra.
Além disso, é importante pesquisar sobre a idoneidade da loja em órgãos de defesa do consumidor e em sites de avaliação; identificar se o site possui certificado digital de segurança e a localização da sua sede; salvar e imprimir os passos da compra como número de pedido, e-mails de confirmação, extratos de pagamento; evitar efetuar pagamento em boletos bancários ou depósito em conta corrente de um beneficiado. O ideal seria utilizar serviços de integração de pagamento como Bcash, Pagseguro, Moip e Paypal, pois esses passam a intermediar o serviço entre o cliente e a loja.
Vale, ainda, atentar para as qualificações do vendedor, como o número de estrelas, nota atribuída e comentários sobre a avaliação de clientes. As especificações podem variar de acordo com cada site.
Direito do Consumidor
Apesar dos cuidados, o cliente pode se sentir lesionado em alguma transação. De acordo com advogado e professor de Direito do Consumidor, Hércules do Amaral, é possível mobilizar uma empresa sediada em outro país. "A legislação brasileira exige que o site coloque o endereço físico da sua sede. Se a empresa for representada aqui no Brasil por uma transportadora, é bem mais fácil. Se não, é mais complicado. Seria necessário ajuizar, perante a Justiça, uma ação de cobrança indicando o endereço da sede. O juiz iria determinar a expedição de carta rogatória, o que leva muito para ser cumprido. É um processo caro e demorado. Por isso, muitos usuários acabam não indo atrás. Acredito que redes sociais seriam a melhor maneira de se manifestar contra a empresa", afirma.
Para o advogado, existe a carência de uma legislação universal que cuide do assunto. "Nós estamos caminhado, mas ainda tem muito por fazer. Principalmente no Brasil. Mas é realmente complicado você impor limites e regras dentro da internet. É necessário um órgão mundial que cuide disso", afirma.
De acordo com a Receita Federal, produtos acima de US$ 50 dólares, obtidos através de vendedores físicos, sofrem uma taxação de 60% sobre o valor da fatura. Caso ocorra taxação, o produto é retido e só retirado em uma unidade dos Correios, a ser avisada ao usuário por meio de comunicado. Além do imposto, é preciso o pagamento de uma taxa de R$ 12, referente ao despacho. De acordo com o órgão, a tributação é necessária para aumentar a concorrência leal entre as empresas do Brasil e de fora. O valor máximo para compras de produtos importados é de US$ 3 mil.
Muambator
Para quem costuma comprar em sites estrangeiros e quer saber como está o processo de entrega do produto, o app Muambator é uma mão na roda. Ele permite que os usuários possam registrar e rastrear encomendas.
O aplicativo indica onde está o produto, através de alertas com informações de localização para Twitter, e-mails ou smartphone. É possível inserir dados sobre uma mercadoria, loja onde ela foi comprada e o nome do produto. Outros detalhes são atualizados assim que o sistema reconhece o código fornecido pelos Correios. O app é gratuito e está disponível para iOS, Android e Windows Phone.
Bruna Salmito
Repórter
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