VISITA AO CEARÁ
O peemedebista critica o adversário Arlindo Chinaglia por contar vitória entre os deputados do Ceará
O postulante do PMDB à Presidência da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, esteve ontem em Fortaleza para pedir apoio à sua candidatura. Apesar de adotar discurso crítico ao Governo Federal nos últimos meses, o congressista garantiu que não fará oposição ao Executivo Federal, caso seja eleito. Acrescentou que colocará as discussões sobre reforma política e tributária na pauta da Casa e fez críticas ao adversário Arlindo Chinaglia (PT) por contar vitória antecipada entre os deputados federais do Ceará.
"Toda discussão é maior e mais profunda do que se falar em uma comissãozinha que terá dez deputados. Precisamos discutir com os governadores e prefeitos como podemos revisar o pacto federativo para não onerar mais o contribuinte e para corrigir algumas distorções", alfinetou Cunha, em passagem pelo Sistema Verdes Mares, referindo-se à proposta de Chinaglia de criar uma Comissão de Desenvolvimento Regional na Câmara.
O peemedebista visitou Fortaleza acompanhado pelos deputados federais do PMDB Nilton Cardoso Júnior (MG), Pedro Chaves (GO) e Josi Nunes (TO), além de André Moura (PSC-BA) e correligionários do Ceará, como o deputado Danilo Forte. Cunha almoçou com nove integrantes da nova bancada federal cearense no Marina Park Hotel e se reuniu com Tasso Jereissati (PSDB).
Viagem
Estava previsto para ontem encontro com o governador Camilo Santana, que desmarcou a reunião, justificando agenda em Brasília. O senador Eunício Oliveira, que estava em viagem internacional, não conseguiu chegar a tempo de encontrar o colega de partido. Moroni Torgan (DEM) alegou estar em viagem e Gorete Pereira (PR) disse que se recupera de uma cirurgia.
Segundo Eduardo Cunha, é preciso fortalecer a bancada do Nordeste como um todo. Reclamou ainda do fato de Arlindo Chinaglia ter se apresentado como sendo apoiado por 16 votos da bancada cearense. "Quem coloca voto na boca dos outros é porque não os tem", criticou, destacando ser "indelicadeza" nominar quem vai apoiar quem se o próprio votante não se declarou.
Durante o almoço com os deputados, Eduardo Cunha afirmou aos parlamentares que, se esperam dele uma postura de oposição em relação ao Governo Federal, irão se decepcionar. Apesar de a candidatura dele estar angariando apoio de vários opositores no Legislativo, ele assegurou que almeja adotar uma posição independente. "Se alguém achar que vai ser submisso ao Governo, também vai se decepcionar", acrescentou.
Aos deputados federais do Ceará, Eduardo Cunha detalhou a forma como foi construída sua candidatura ao lembrar que o acordo feito anteriormente para o revezamento da presidência da Câmara Federal entre PT e PMDB não é mais viável.
Derrotados
"Esse revezamento aconteceu na legislatura passada. As duas bancadas juntas, PMDB e PT, eram muito maiores do que são hoje. Tinha muito mais participação no Congresso como um todo. As duas bancadas são muito menores, não são majoritárias entre as bancadas na Câmara dos Deputados. Além disso, saímos de um processo eleitoral em que 28 partidos garantiram representação na Casa. Se nós quiséssemos fazer um novo acordo, provavelmente seríamos derrotados", esclareceu em entrevista coletiva após o almoço.
Na conversa com os deputados federais, Eduardo Cunha relembrou também o período em que o PMDB apoiou a candidatura do petista Arlindo Chinaglia para a Câmara em 2007 e disse ter se decepcionado pela gestão dele à época, além da postura ofensiva que o petista tem assumido na disputa pelo cargo.
"Também tenho muitas dúvidas sobre essa alopragem que foi feita em cima de mim, tentando me comprometer. Eu não vou descer o nível do Chinaglia nos ataques pessoais dele, até porque ele quer se inserir no jogo, porque está muito distante", avaliou Cunha.
Após o almoço, Eduardo se reuniu reservadamente com Tasso Jereissati. Depois do encontro, limitou-se a revelar que a visita ao tucano foi motivada, principalmente, pelo peso do senador eleito pelo PSDB, que apoia a candidatura de Júlio Delgado (PSB) para a presidência da Câmara Federal como forma de garantir que a disputa vá para o segundo turno.
Altivez
Na nova etapa da eleição, o PSDB vai defender o nome de Eduardo Cunha, mas a agremiação não descarta alterar a posição caso haja a possibilidade de o peemedebista vencer no primeiro turno. "Essa foi uma conversa política sobre o papel do Congresso, a independência do Congresso, a altivez do Congresso em decisões importantes que nós vamos ter que tomar. Toda a conversa foi nessa direção", pontuou Tasso Jereissati.
O candidato do PMDB também incluiu na sua plataforma de campanha a defesa do orçamento impositivo para as emendas parlamentares de bancada e a aprovação da reforma política. Eduardo Cunha reforçou que, mais do que a criação de uma comissão voltada para os interesses regionais, como propõe Chinaglia, é necessário repactuar a distribuição de riquezas entre União, estados e municípios.
"Temos de fazer essa revisão, porque vemos distorções desde a Constituinte de 1988. Na Constituinte de 88, a União deu recursos para os municípios e um monte de obrigações. Com o tempo, isso iria impactar nos custeios. A União criou contribuições que não são compartilhadas com estados e municípios, o que gerou distorções", apontou em entrevista ao Diário do Nordeste.
"O Ceará, por exemplo, paga a conta dos incentivos fiscais para manter indústria automobilista de São Paulo. Consequentemente se tirou recursos dos federados que não tinham nada a ver. Se a União quisesse fazer, para efeito de política econômica, deveria ter feito com a sua parte no bolo tributária e não com os federados", completou, deixando claro que, caso seja o próximo presidente da Câmara, pretende manter relação cordial com a presidente Dilma.
Camilo decide viajar para Brasília e cancela encontro
O encontro que estava previsto entre Camilo Santana e o candidato peemedebista à presidência da Câmara Federal, Eduardo Cunha, foi cancelado sob a justificativa de que o governador foi chamado de última hora pelo Palácio do Planalto para uma reunião em Brasília.
Questionado se essa movimentação era recebida como a sinalização de que o Planalto quis enfraquecer a campanha no Ceará, Eduardo Cunha disse que não lhe caberia analisar, mas ressaltou que Camilo Santana foi o único governador do País com quem não se encontrou nas passagens por 26 Estados.
"Eu não tenho que achar nada. Essa é a vigésima sexta visita, estive com 25 governadores, inclusive do próprio PT. Nessa última segunda-feira, estive com o governador Rui Costa, do PT da Bahia. Na última sexta-feira, estive com Wellington Dias, do PT do Piauí. Todos me receberam com a maior cortesia", frisou.
O deputado Eduardo Cunha também aproveitou para esclarecer que a visita a Camilo Santana não tinha nenhum objetivo de constrangê-lo e pontuou que evitaria tratar sobre a eleição na Câmara Federal por saber do apoio dele à candidatura do petista Arlindo Chinaglia.
Institucional
"Seria uma visita institucional como tem sido em todos os lugares. Eu sei perfeitamente que o partido dele tem candidato e não iria pedir apoio, assim como o candidato Chinaglia foi a Alagoas e o governador Renan Filho o recebeu com a mesma fidalguia que seria recebido pelos governadores do PT. Não vejo nada que isso possa ser um drama, até porque não ia mudar a posição dele. Eu seria bastante educado e elegante", destacou.
Ao evitar o encontro entre Camilo Santana e Eduardo Cunha, o suposto imprevisto poupou o governador cearense de um mal-estar com o PT, que hoje vive situação de desgaste com o PMDB por conta do acirramento na disputa pelo cargo de presidente da Câmara Federal.
Com o cancelamento da ida ao Palácio da Abolição para a conversa com o governador, a visita de Eduardo Cunha a Tasso Jereissati (PSDB), no escritório do senador eleito, precisou ser antecipada em uma hora, impedindo a participação de Eunício Oliveira no encontro, que estava previsto para voltar de viagem dos Estados Unidos somente no início da noite de ontem.
FIQUE POR DENTRO
Deputados que se reuniram com o candidato
Participaram do encontro os eleitos Arnon Bezerra (PTB), Danilo Forte (PMDB), Vitor Valim (PMDB), Aníbal Gomes (PMDB), Raimundo Gomes de Matos (PSDB), Genecias Noronha (SD), Cabo Sabino (PR), Moses Rodrigues (PPS) e Ronaldo Martins (PR). Moroni Torgan (DEM) e Gorete Pereira (PR) não compareceram, mas justificaram a ausência na reunião
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