eUSÉBIO
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Por conta da briga de gangues pela disputa do tráfico, o município registrou 13 homicídios, apenas em outubro
Ezequias Gomes, o 'Kia', é apontado pela Polícia como o atual comandante da quadrilha, antes chefiada por 'Oiaõ' Depois de ter agido ao lado de 'Oião' William Oliveira, o 'Perna Fina', teria planejado sua morte Alef Soares, o 'Pupu', é investigado como o principal aliado de 'Kia'. Eles teriam participado de 20 execuções Jangledson Oliveira, o 'Nem', seria o chefe da organização que tenta tomar para si o controle do tráfico Suspeito de ser um dos matadores de 'Oião', Devyson Lima, o 'Deivim', é aliado do bando de 'Nem' Igor Oliveira é apontado pela equipe da DME como o executor do bando comandado por 'Nem'
A Cidade do Eusébio, que tem uma população estimada de 45 mil habitantes, registrou 76 homicídios, em 2014, em dados ainda não concluídos da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). O número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) deixa o Município na desconfortável posição de terceiro mais violento da Região Metropolitana e sexto mais violento do Estado. No último trimestre de 2014, o número de assassinatos foi mais elevado, por conta da execução do maior traficante local, conforme a titular da Delegacia Metropolitana do Eusébio (DME), Ana Lúcia Almeida.
Segundo informações da DME, José Roberto Honório da Silva, o 'Roberto Oião', foi executado no dia 8 de outubro, por antigos comparsas, em um balneário às margens do Rio Pium, em Parnamirim, Rio Grande do Norte. Um dia antes, o irmão dele, José Alberto Honório da Silva, havia sido morto, na Travessa São Lázaro, no Eusébio.
"O Roberto cometeu crimes bárbaros. A marca dele era a violência, a crueldade. Os suspeitos de sua morte também não o pouparam do sofrimento. Temos informações de que ele foi obrigado a ver o irmão sendo morto e no dia seguinte foi levado para Parnamirim, para morrer. Devido a situação que o cadáver ficou, após ser queimado e ter os olhos furados, a identificação só pode ser feita com exame de DNA", declarou Ana Lúcia.
Depois da confirmação da morte de 'Oião', uma sequência de mortes foi iniciada no Eusébio. A Cidade que sofre há anos com a atuação de uma quadrilha fortemente armada, que atua em assaltos, tráfico e homicídios, viu novamente os efeitos da mudança de comando da organização criminosa. A delegada disse que em decorrência da morte de Roberto Silva dois grupos estão duelando pelo domínio do tráfico de drogas nos bairros Parque Havaí, Autódromo e Urucunema.
Aliados
Conforme Ana Lúcia, os grupos estão se reorganizando e buscando aliados, em outras facções. Ezequias Nascimento Gomes, o 'Kia', 18, é quem está comandando o bando de Roberto. De acordo com a delegada, ele foi o autor material ou intelectual de 15 homicídios, depois que assumiu a associação criminosa.
Informações da DME dão conta que outras duas pessoas estão ligadas a 'Kia', na função de eliminar seus inimigos. Um adolescente de 17 anos e Alef Deyvison Rebouças, o 'Pupu'. "São todos bastante perigosos. Eles não estão medindo esforços para continuar no poder. O 'Kia' começou a atuar com Roberto, quando ainda era criança. Aprendeu todos os trejeitos, as estratégias de fuga e a frieza. Mesmo tão jovem, é um criminoso que já fez muitos estragos", disse Ana Almeida.
Quando adolescente, 'Kia' já era citado em, pelo menos, 20 inquéritos que apuram homicídios. Diversas vezes, sem que sua identidade fosse revelada por conta da menor idade penal, foram noticiadas diligências da Polícia em busca dele. O suspeito de dezenas de mortes chegou a ser apreendido duas vezes. Em ambas ele estava em hospitais, recebendo cuidados, por ter sido ferido a bala durante confrontos com rivais.
'Kia' se livrou da primeira apreensão, devido a uma extrapolação de prazo para que seu processo fosse julgado. Por conta disto, 45 dias após dar entrada no Centro Educacional Patativa do Assaré (CEPA), foi solto. Na segunda vez em que esteve na instituição, cumprindo internação, que deveria durar três anos, foi um dos mentores da maior fuga acontecida na unidade, segundo a titular da DME.
Duelo
Os rivais de 'Kia' e 'Pupu' também já são suspeitos de diversos crimes, inclusive da morte de 'Roberto Oião'. Chefiados por Jangledson Oliveira, o 'Nem', os homicidas William Costa Oliveira, o 'Perna Fina; Igor Mendes Oliveira; e Francisco Devyson Freitas Lima, o 'Deivim', foram indiciados por cinco mortes cometidas no mês de outubro.
Ana Lúcia Almeida disse que todos os envolvidos nas mortes estão com mandados de prisão em aberto e todas os assassinatos foram elucidados. "As autorias são atribuídas a eles. A Polícia tem sido incansável em investigar e tentar prendê-los. Infelizmente, alguns fatores têm dificultado nosso trabalho. A Cidade tem várias áreas de matagais densos, em que eles se embrenham e passam muitos dias. Estamos trabalhando no sentido de cercá-los e tentar desbaratar as duas quadrilhas", declarou a delegada de Polícia Civil.
Associação criminosa atua há mais de cinco anos
A união de jovens criminosos, que começaram assaltando chácaras e sítios do Eusébio, no ano de 2009, se transformou na quadrilha que ainda é a maior responsável pelos crimes que acontecem na Cidade, de acordo com a delegada Ana Lúcia Almeida. No entanto, segundo a comandante da Área Integrada de Segurança (AIS) 9, a gravidade dos delitos praticados por eles foi se agravando e os integrantes do bando migraram para modalidades de crimes mais violentos.
"Eles começaram invadindo as casas de veraneio, mas acabaram entrando no tráfico. Como rende bastante dinheiro, quem vende drogas quer expandir cada vez mais sua área e acaba se deparando com a resistência de grupos já estabelecidos. Por conta disto, eles começaram a matar seus rivais. Com o tempo, parece que o crime faz com que as pessoas percam a sensibilidade e até a humanidade. Já não há um motivo claro, eles matam só para serem temidos mesmo", disse a delegada que já trabalha no Eusébio há cinco anos.
O primeiro a comandar o bando foi Victor Antônio da Silva Oliveira, o 'Salsicha'. Depois de ser indiciado várias vezes por crimes cometidos em Eusébio e Aquiraz, o jovem acabou sendo morto, durante um confronto com a Polícia, no dia 30 de maio de 2011, ocorrido às margens da BR-020, na altura do Município de Caucaia.
A caçada a 'Salsicha' demorou mais de dois anos. Conforme Ana Lúcia Almeida, neste tempo o criminoso passou a se esconder em matagais para furar os cercos policiais e isto se tornou uma marca de seu bando. As muitas estratégias para ficar diversos dias nestes locais ermos recebendo suprimentos de pessoas de fora, sem que fossem descoberto, fizeram com que 'Salsicha' nunca fosse preso para pagar por seus crimes.
Outros comandos
Depois de 'Salsicha', seu braço direito na organização, Carlos Antônio Silva de Moraes, o 'Dante', garantiu que a quadrilha continuasse agindo, por três meses. Porém, ele também foi baleado durante um confronto com a Polícia Militar e acabou morrendo, na localidade de Oiticica, no bairro Santa Maria, no dia 30 de agosto de 2011.
O último integrante da quadrilha que exercia poder de liderança assumiu a frente do tráfico e das execuções. Francisco Wellington da Silva Justino, o 'Etim', chegou a ser um dos criminosos mais procurados do Estado, até ser detido no Hospital do Eusébio, depois de ser baleado por policiais, em uma troca de tiros. 'Etim' foi levado ao Instituto Doutor José Frota (IJF), no dia 19 de março de 2013, para se recuperar da lesão a bala, mas morreu dois dias depois.
Com a morte de 'Etim', 'Roberto Oião', que também atuava no bando, passou a ser o chefe do tráfico. Ao lado de 'William Perna Fina' ele ordenou assaltos, latrocínios (roubo seguido de morte) e homicídios.
'Perna Fina' já era foragido da Cadeia Pública de Aquiraz, onde cumpria pena por tráfico de drogas. As execuções arquitetadas por 'Oião' eram colocadas em prática por 'Kia', que era um garoto, na época. "Ele arregimentou o menino e o moldou para que fosse frio e não temesse nada. O 'Kia' chegou ao ponto de matar um amigo de infância, com golpes de foice, porque suspeitou que o garoto estivesse planejando abandonar a venda de drogas do 'Roberto'", disse Almeida.
A morte de Roberto Oião deixou o bando desestabilizado e as brigas estão longe de terminar, conforme a Polícia. "Eles vão continuar brigando e se matando, porque cada vez que o 'cabeça' do tráfico morre, surge para quem fica uma nova oportunidade de ser poderoso. Para isto eles matam, mas sabem que podem morrer também. Infelizmente, isto é o que o mundo do crime tem para oferecer a eles, a oportunidade de acabar com a vida de alguém ou com a deles própria", afirmou a delegada.
A comandante da AIS 9 garante que a Polícia não desistirá de finalmente acabar com a quadrilha. "Seremos incansáveis. Nossas diligências têm sido ininterruptas para capturá-los. Nosso objetivo é que sejam presos, antes que se fortaleçam de novo".
"É difícil correr na frente da bala"
Os moradores do Parque Havaí se dizem amedrontados, a cada nova onda de violência que acomete o bairro. A reportagem encontrou uma mulher que mora no reduto da quadrilha do 'Roberto Oião', quando ela estava chegando à DME para registrar uma ameaça a seu filho, que ainda é adolescente.
A mãe, que não quis se identificar, disse que não sabe mais como lidar com a situação, pois vive tendo sua casa invadida por traficantes que vão cobrar dívidas de drogas. Segundo ela, o filho teve que se mudar para o Interior para não ser morto, mas mesmo assim as ameaças contra ele não cessaram.
"Meu filho não é certo e eu sei disso. Não sei onde eu e o pai dele falhamos, mas deixamos ele entrar em um caminho sem volta que é o das drogas. Infelizmente, vivemos em um lugar sem lei, onde essa quadrilha não é punida nunca e se acha no direito de fazer o que quer. O pior é que eu tenho outros filhos pequenos que têm que presenciar cenas de violência na própria casa. Um dia desses ameaçaram até de levar um deles, caso a dívida do irmão não fosse paga. Eu vivo aterrorizada, mas não tenho de onde tirar dinheiro".
A mãe do menor ameaçado disse que a rotina do Parque Havaí é marcada por momentos de tensão extrema e muitos moradores já decidiram abandonar suas casas, porque não aguentam mais conviver com os crimes constantes. Segundo ela, pelo menos 30 vizinhos seus foram executados durante o ano de 2014, em decorrência das brigas pelo tráfico local.
"É muito difícil viver correndo na frente da bala. É assim que eu me sinto, porque todo dia tem um tiroteio lá. A gente sempre está abalado, porque um conhecido morreu. São meninos que eu vi crescer, que eu desejava que tivessem outras vidas. Quem não morre, está indo embora, porque se não concordar calado com o crime, eles matam", declarou a mulher.
O vendedor ambulante João Pádua, disse que mora no bairro Autódromo e que lá não é diferente. "Quando escutamos as viaturas passando em disparada em direção ao matagal, já sabemos que tem alguém perigoso ali perto. Não conto quantas noites já passei acordado, para no caso de uma emergência durante estas caçadas, tentar salvar minha família".
Investigado
Criminoso tinha 17 mandados e nunca foi preso
O traficante, homicida e assaltante José Roberto Honório, o 'Roberto Oião', tinha 17 mandados de prisão, expedidos pelas Comarcas do Eusébio e de Aquiraz, mas nunca foi preso. De acordo com informações da DME, ele era investigado como autor material ou intelectual de mais de 50 homicídios. 'Oião' foi achado morto, com parte do corpo queimado, no Estado do Rio Grande do Norte.
Márcia Feitosa
Repórter
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