Além da 'pirataria', a Polícia investiga se a rota era usada também para transporte de armas e drogas.
Dois caminhões que transportavam produtos falsificados foram apreendidos pela equipe da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), na madrugada de ontem, em Barroquinha (a 420Km de Fortaleza). Segundo a Polícia, as milhares de réplicas de modelos de óculos escuros e roupas de grifes interceptadas seriam entregues em São Paulo e de lá seriam distribuídas para todo o Brasil. A Polícia investiga se a rota marítima também não esteja sendo usada para o transporte de drogas e armas para o Estado do Ceará.
Conforme o delegado Jaime Paula Pessoa Linhares, titular da DDF, o trajeto dos produtos até o Estado já vinha sendo investigado e outra grande apreensão tinha sido feita, no mesmo lugar, há sete meses. "Acontece sempre da mesma forma. Um navio atraca em um ancoradouro clandestino e vários botes, tripulados por nativos da praia, vão buscar a mercadoria. Quando retornam, os próprios nativos pegam a mercadoria dos botes e carregam os caminhões que já estão esperando pelos produtos", revelou o delegado.
A procedência da mercadoria ainda não está clara, segundo a Polícia. Embora muitos itens sejam idênticos aos que são produzidos na China, alguns tem etiquetas escritas em português, que sugerem que a fabricação aconteceu no Brasil.
Conforme o delegado titular da DDF, os óculos e roupas ainda serão periciados e somente após este procedimento, a procedência será elucidada.
Jaime Paula Pessoa disse que existe uma preocupação da DDF com este ponto de entrada de material ilegal, em Barroquinha, e uma solução já está sendo pensada junto à cúpula da Polícia Civil. "Além da questão da 'pirataria', que é muito séria, é possível que muitas outras coisas estejam entrando no Ceará. É possível que drogas e armas cheguem por lá também".
A relação das pessoas que moram na praia com aquelas que fazem o transporte das cargas ilícitas, nem sempre é amistosa, de acordo Jaime Paula Pessoa. "Eles ajudam muito no transporte dos produtos da água para a terra firme, mas também já chegaram a saquear cargas inteiras. Existe uma conivência grande dos moradores, que ficam calados, não querem dar informações que possam desmontar o esquema, mas quando os interesses são contrariados há sim uma revolta", salientou.
Quatro inspetores da DDF estavam no local desde a última segunda-feira, aguardando que os navios suspeitos atracassem. Ninguém foi identificado pelos policiais como sendo o responsável pelo esquema. "A operacionalidade deste transporte ainda precisa ser investigada. Foi complicado para os policiais identificarem os responsáveis, por que tudo acontece muito rápido durante a madrugada. Sabemos que muitas pessoas estão envolvidas e, provavelmente, alguém que mora lá ajuda a organizar estas operações ilícitas", afirmou Linhares.
Motoristas
Os motoristas dos dois caminhões apreendidos foram levados até a DDF para serem ouvidos. Um deles contou que trouxe uma carga de Minas Gerais para o Piauí. Na volta teria sido contratado em Parnaíba, no Piauí, para pegar um carregamento em Barroquinha e levar o para o Estado de São Paulo. "Isto é uma coisa comum entre os caminhoneiros. Eles têm corretores de cargas, conhecidos como 'chapeiros', que encontram cargas para viagens de volta. O caminhoneiro que ouvimos nos revelou que foi contratado para levar produtos recicláveis para São Paulo, inclusive era isto que constava na nota fiscal entregue a ele", disse o delegado Jaime Paula Pessoa.
No meio da carga de produtos apreendidos, a Polícia encontrou alguns fardos de papelão, que segundo o titular da DDF, serviam para tentar burlar possíveis fiscalizações. "O que constava na nota era que a carga era de produtos recicláveis e eles colocavam alguns fardos de papelão somente para enganar algum tipo de revista. Vale lembrar que o caminhoneiro não é quem organiza a carga, ele já recebe o caminhão pronto para a viagem". Até o fechamento desta matéria, a contagem e a pesagem da mercadoria ainda não havia sido feita.
Márcia Feitosa
Repórter
Fonte: DN
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