No segundo dia de sua visita oficial à Rússia, a presidente Dilma Rousseff citou uma célebre frase de Garrincha (1933-1983) ao ex-técnico da seleção brasileira Vicente Feola para explicar a parceria estratégica entre os dois países.
"Eu vim aqui para combinar com os russos", declarou a presidente no Kremlin (sede do governo russo), após um pronunciamento ao lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e em seguida à assinatura de diferentes tratados bilaterais.
A frase de Garrincha ("O senhor combinou com os russos?") havia sido uma resposta às determinações de Feola, então treinador da seleção brasileira na Copa de 1958, sobre como o craque brasileiro deveria atuar em campo.O comentário foi uma alusão aos vários assuntos em que os dois países têm posições semelhantes, como a reforma na governança de instituições multilaterais, como o FMI e o Banco Mundial e a presença das duas nações no bloco Brics, que é integrado ainda pela Índia, China e a África do Sul.
Mas a presidente, que confundiu Rússia e Suécia e final e semifinal ao relembrar a história, não conseguiu "combinar com os russos" uma solução para o maior impasse entre Rússia e Brasil atualmente - a suspensão do embargo da carne brasileira para o mercado russo, que conta com cerca de 105 milhões de consumidores.
Embargo da carne
As carnes bovina, suína e de frango constituem o maior produto de exportação brasileira para a Rússia, responsáveis por 36% do total das vendas do Brasil ao país. No ano passado, as exportações de carne brasileira ao país somaram US$ 1,5 bilhão (R$ 3,1 bilhões).
A expectativa entre o governo e representantes do setor agropecuário ouvidos pela BBC Brasil era de que a Rússia encerraria em definitivo o embargo decretado em junho do ano passado à carne bovina brasileira.
Na ocasião, os russos interromperam as importações sob a alegação de que o produto supostamente não atendia a uma série de medidas sanitárias.
O embargo atinge três Estados, que estão entre os maiores produtores de gado do país: Paraná, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
Em novembro, o Ministério da Agricultura anunciou que o embargo russo havia terminado; no entanto, uma série de certificados solicitados pelas autoridades russas ao governo brasileiro ainda estariam pendentes, o que vem retardando a retomada do comércio entre os dois países.
O tom da presidente nesta sexta foi bem menos entusiasmado do que o adotado por ela no dia anterior, após um encontro com o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev.
Nesta sexta, Dilma limitou-se a afirmar que expressou a Putin sua "expectativa sobre o pronto restabelecimento no comércio de carne suína do nosso país. E o fim do embargo aos três Estados brasileiros''.
Porém, a presidente cometeu uma imprecisão. A carne suína brasileira não está sob embargo russo, ainda que autoridades do país venham exigindo que o Brasil ofereça certificação de que o produto exportado para a Rússia não contenha a substância "ractopamina", que estimula o crescimento de suínos e é considera danosa à saúde de humanos. A ractopamina é amplamente usada na produção de suínos no Brasil.
O Brasil exporta, entretanto, para alguns países carne suína que recebe a substância, como é o caso do produto vendido para a China.
Para que venha a fazer o mesmo para a Rússia, porém, representantes russos estão exigindo que sejam emitidos pelos brasileiros certificados assegurando que a carne suína não contenha a substância.
Terceira frente
Além do já citado embargo pendente aos três Estados, há também uma ''terceira frente'' de ameaça ao comércio da carne brasileira, que poderá ainda envolver a Rússia e que já englobou outras nações.
Nesta semana, Japão, China e África do Sul decidiram interromper temporariamente a importação de carne bovina do país após ter sido encontrado um foco de mal da vaca louca em um lote de carne vindo do Paraná.
A Rússia disse que ainda analisará o caso para tomar uma decisão.fonte:BBC Brasil,via moscou/jardim das oliveiras blog
Nenhum comentário:
Postar um comentário