O sequestro de Dom Aloísio Lorscheider é lembrado até hoje como uma das principais rebeliões do sistema prisional cearense
A visita havia sido marcada pelo próprio cardeal. No Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), a notícia que corria era a da insatisfação dos presos com as más instalações e a superlotação da unidade. Uma intervenção era necessária, julgou o sacerdote. Três outros religiosos e alguns integrantes de movimentos sociais foram convocados para uma vistoria na instituição. Do outro lado das grades, um grupo de detentos aguardava pelos visitantes. Seriam eles a garantia para a liberdade, planejavam.
Os acontecimentos daquele 15 de março de 1994 viraram notícia. Ganharam repercussão internacional. Há exatos 20 anos, o então arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider era sequestrado por 14 detentos no maior presídio do Ceará.
O sequestro
A peregrinação pelas celas, que havia se iniciado às 9 horas, já havia chegado ao fim. Às 10h, o cardeal subia ao palco. No fundo do auditório, uma movimentação chamou a atenção dos presentes. O detento Antônio Carlos de Souza Barbosa, o Carioca, imobilizava dom Aloísio com uma faca. “Aquela cena ficou congelada na minha memória”, relembra o então deputado estadual Mário Mamede, um dos reféns da rebelião.
A reação veio de um policial. Houve troca de tiros. Dois detentos morreram. Um soldado ficou ferido. No corre corre, 27 pessoas encurralaram-se em uma sala do auditório e assumiram os seus papéis: 13 reféns, 14 sequestradores.
A negociação durou cerca de 13 horas. “Estávamos extremamente cansados e tensos”, conta Mário. Ao final da noite, o pedido dos sequestradores havia sido atendido. Mas não por completo. O carro-forte solicitado estava com o bagageiro trancado. As 27 pessoas que antes ocupavam a sala de 25m² agora se dividiam no espaço de quatro passageiros.
Um dos detentos, o Fazendeiro, guiou o veículo até o sítio dos pais, em Ibaretama. Lá, lembra Mário, a família serviu água aos reféns. A dom Aloísio, foi ofertado um copo de leite. E um pedido de desculpas. “Existia uma preocupação visível com ele. A pessoa principal daquela ação era dom Aloísio”, comenta.
O grupo foi libertado por volta das 6h do dia seguinte após o carro de fuga sofrer um acidente. Nenhum dos reféns ficou ferido. “O bom desfecho, em grande parte, se deve ao dom Aloísio. Ele, ao invés de se portar de maneira hostil, disse: ‘Nós vamos sair dessa vivos’. E saímos”, diz.
O perdão
Duas semanas após o sequestro, o cardeal voltou ao IPPS. Era quinta-feira de Páscoa. Dom Aloísio visitou Carioca em sua cela. Conversaram por dez minutos. Oraram. O detento pediu perdão e foi perdoado.
O cardeal morreu aos 83 anos, em 2007, vítima de falência múltipla de órgãos. Do Carioca, sabe-se que foi transferido para um presídio em São Paulo. E só. fonte:o povo online/JOCC
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