Apesar de a greve ter sido amplamente divulgada nos últimos dias, muitas pessoas ainda não sabiam sobre a paralisação dos bancários
O cobrador de ônibus José Batista do Nascimento, por exemplo, aproveitou que está de férias para tentar sacar o PIS. Deu viagem perdida
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Em parte das lotéricas da Capital, a movimentação, no fim da tarde de ontem, não superava a dos dias que antecederam a paralisação
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A greve iniciada ontem pelos bancários surpreendeu muitos fortalezenses que se depararam com os avisos de "bancários em greve" colados nos vidros na entrada das agências. Os caixas de autoatendimento, entretanto, continuavam disponíveis. Entre as principais reivindicações deste ano, estão: reajuste salarial de 12,5%, Participação nos Lucros e Resultados de três salários, além de uma parcela adicional de R$ 6.247 e piso de R$ 2.979,25 FOTOS: alex costa
Muitos fortalezenses ainda foram pegos de surpresa com a greve dos bancários, que começou ontem em todo o Brasil. Embora a paralisação da categoria tenha sido amplamente divulgada nos últimos dias, era possível encontrar pessoas desinformadas nas agências da Capital, buscando resolver suas pendências.
No primeiro dia de paralisação, pelo menos 272 agências no Ceará aderiram à greve, o que corresponde a 52,3% de um total de 520 estabelecimentos, segundo o Sindicato dos Bancários do Ceará (Seeb-CE). No Brasil, um total de 6.572 agências e centros administrativos fecharam, conforme a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
"Moro no bairro José Walter e não sabia da greve. Aproveitei que estou de férias e vim aqui tentar sacar meu PIS (Programa de Integração Social), mas dei viagem perdida", lamenta o cobrador de ônibus José Batista do Nascimento. Na manhã de ontem, ele foi à agência da Caixa Econômica Federal localizada na esquina da Rua Floriano Peixoto com a Avenida Duque de Caxias, no Centro. Ele deveria ter recebido o benefício no último dia 16, conforme o calendário de pagamento estabelecido pela instituição.
"Eu estive no banco nesta data, mas, como eu não tenho Cartão do Cidadão, me disseram que eu só poderia receber o PIS hoje (ontem). Infelizmente, está tudo parado", conta, informando que utilizaria os R$ 724 do benefício para quitar dívidas de cartão de crédito. "Conto com o PIS para pagar uma fatura de R$ 400. A conta ainda não está atrasada, mas e se a greve demorar a terminar?", questiona José.
Saque
Ainda na mesma agência, a vendedora Tarciana Farias não conseguiu sacar dinheiro. Isso porque, há cerca de 20 dias, ela perdeu seu cartão bancário e não tem como efetuar o saque no caixa eletrônico. "Achei que estava tudo funcionando normalmente e trouxe minha identidade para receber o salário na boca do caixa. Talvez meu novo cartão já esteja pronto, né? O jeito agora é esperar", lamenta.
Para Tarciana, que também é moradora do bairro José Walter, a greve não era para ter começado agora, entre o fim de um mês e o começo de outro. A vendedora lembra que o caso dela é pior, tendo em vista que está sem o cartão e não pode utilizar o serviço de autoatendimento. "Tenho que pagar água, luz, aluguel. É um problema. Já estou pensando como é que vai ser", fala.
Negociações
Embora a paralisação dos bancários seja por tempo indeterminado, o presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará (Seeb-CE), Carlos Eduardo Bezerra, afirma que a categoria está aberta a negociações, "podendo a greve terminar assim que os pleitos forem atendidos".
De acordo com ele, as instituições financeiras têm condições de atender às demandas, pois "os seis principais bancos do País lucraram R$ 58 bilhões só no ano passado". Entre as principais reivindicações deste ano estão: reajuste salarial de 12,5%, Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de três salários, além de uma parcela adicional de R$ 6.247. A Associação dos Bancos do Estado do Ceará (Abance) foi procurada, mas não respondeu até o fechamento desta edição.
Varejo prevê perdas com a paralisação dos bancários
Iniciada ontem em todo o Brasil, a paralisação dos bancários, que afetará todos os bancos públicos e privados do País, deve culminar em transtornos e até prejuízo para o varejo cearense, pelo menos é o que prevê o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves. Segundo ele, um dos principais pontos negativos será a ausência do papel-moeda, o que acabará afastando os consumidores das compras.
"Não há dúvida de que a paralisação será ruim para o varejo. Há alguns anos, por exemplo, ocorreu uma longa greve dos bancários que culminou em perdas significativas para o setor. Para se ter uma ideia, na época vendemos apenas um terço do que normalmente venderíamos naquele período", afirma o presidente de Sindilojas.