CINEASTA MANTÉM PLANOS DE AMIGO COM CÂNCER E CONCLUI VIAGEM SEM ELE.

Mário recebeu a notícia de que tinha um câncer no fígado. Ele e seu melhor amigo marcaram uma viagem de despedida, mas Mário não teve tempo.

A história de viagem de Eric e Mário teve um final comovente. Uma história que mostra até que ponto pode chegar a força de uma grande amizade.

Mário Duques é mergulhador. “Uma figura muito afetuosa, conciliadora. Cheio de vida. Que encara os desafios sempre de frente”, conta Eric. 

E o seu melhor amigo: Eric Laurence, cineasta. “Ele não se deixava abater. Isso era o que mais me impressionava: ele nunca se deixava abater”, conta. 

Em 2006, Mário recebeu a notícia: tinha um câncer no fígado. “Ele continuava indo para as festas, continuava mergulhando, estudando”, lembra Eric.

Os dois amigos marcaram uma viagem de despedida. Um rito de passagem no deserto do Atacama, no Chile. “A gente comprou as passagens e ele falava para os amigos 'vou para o Deserto do Atacama, e o meu amigo vai fazer um filme sobre mim'”, conta.

A ideia era registrar a viagem e misturar com imagens que o próprio Mário começou a filmar noRecife, durante o tratamento. Ele queria mostrar a família, os amigos, os bons momentos, os momentos difíceis, o que ele considerava importante.

Mário morreu aos 34 anos de idade, em 2010. “Ele se filmou com tanta beleza, com tanta entrega, e, quando eu vi essas imagens, eu disse: 'Não, tenho que concluir. Tenho que concluir esse filme. Tenho que fazer essa viagem’”, conta Eric.

Fantástico: No roteiro, tem o momento que aparece a frase "Depois de dormir em Santa Cruz de la Sierra, Mário parte em direção ao Deserto do Atacama". De que maneira o Mário parte para o deserto?
Eric: Através de mim. Eu estou conduzindo ele, eu estou levando ele para o deserto.

Foi uma longa viagem de 45 dias. Pelo caminho, Eric foi descobrindo outros personagens.

Barman: "Se o objetivo do Mário era viver, eu asseguro que ele viveu 50 vezes mais que você. Porque cada dia se esforçava por viver. Enquanto nós deixamos passar o tempo para saber se vivemos".

No vídeo ao lado você confere mensagens de telespectadores em homenagem a seus amigos.

Em uma cena do filme, Eric relê um e-mail antigo do amigo. Mário escreveu: "Obrigado pela oportunidade de compartilhar minha vida com outras pessoas".

Viajante: "Se teu amigo também queria fazer isso, eu acho que é necessário saber escutar o sussurro espiritual".

Fantástico: Você escutou o sussurro?
Eric: Sim. Sim, escutei, escutei várias vezes. Inclusive quando eu decidi fazer esse filme, que eu decidi fazer esse filme sem Mário, foi isso. Foi uma decisão de viver essa jornada, de escutar esse sussurro espiritual.

Perto do fim, o documentário mostra a última imagem de Mário Duques. Feita por ele mesmo, como sempre. Mário ajeita a câmera e entra em quadro. Vira o rosto pro sol, deixa o vento bater. E sai de cena por uma escada. Para cima.

Um ano depois, o amigo Eric estava no Salar de Uyuni, uma planície de sal na fronteira entreBolívia e Chile, quase chegando ao Atacama.

“E ali cria uma imagem muito simbólica, que eu estou caminhando com o meu reflexo. Estou caminhando com Mário. Muitas vezes eu pensava: 'Poxa, como ele ia estar se divertindo se estivesse aqui comigo’. Ao final da viagem, eu tive uma sensação de paz profunda. Profunda”, conta Eric. 

Mas faltava encerrar a viagem com a mais emocionante homenagem que o Eric imaginou para o amigo: refletor aceso e as imagens do mergulhador Mário são projetadas no Deserto do Atacama, 2,4 mil metros acima do mar, na direção do céu.

“Emocionalmente, espiritualmente, eu acho que ele me acompanhou a viagem toda. Mas ali é um momento que eu traduzo isso em imagem. E foi incrível ver ele nadando no deserto. Sabe? Um momento de integração entre a vida e a morte. Amizade é um sentimento de pertencimento cumplicidade, companheirismo, respeito, amor. ‘Estamos juntos, venha o que vier’, acho que amizade é isso”, define Eric.https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=3926392783764741131#editor/target=post;postID=4373721136539642749