Esquema que usava contas de empresas era liderado pelo oeste do Paraná.
Quatro pessoas com residência fixa na região foram presos em operação.
A quadrilha desarticulada durante a Operação Bemol usava doleiros para a 'lavagem' e o envio de dinheiro ao Paraguai, aponta a Polícia Federal. Os valores que chegavam ao país vizinho eram usados para a compra de drogas e de mercadorias contrabandeadas enviadas para o Brasil. Durante a ação realizada desde a madrugada desta quinta-feira (5) no PR, RS, SC e SP foram presas 37 pessoas até as 17h.
Em entrevista coletiva em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, o delegado-chefe, Ricardo Cubas César, explicou que o esquema era comandado por quatro pessoas com residência fixa no oeste do Paraná: três delas em Foz do Iguaçu e uma em Cascavel. Entre os líderes estavam um professor universitário, um doleiro e um empresário.
O esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas teria movimentado mais de R$ 600 milhões entre 2011 e 2015, de acordo com a PF. Depois de 'lavado', parte do dinheiro, observou o delegado, era reinvestido no esquema para a aquisição de mais drogas e mercadorias. Outra era usado para a aquisição de bens como veículos de luxo.
Conforme as investigações, iniciadas em 2012, o grupo utilizava contas bancárias de 87 empresas – a maioria delas fictícias e de vários ramos como de hotelaria e de venda de bebidas – para receber valores de pessoas físicas e jurídicas de diversos estados interessadas em adquirir mercadorias, drogas e cigarros do Paraguai. Certas quantias eram levadas para o país vizinho passando pela Ponte da Amizade, principal ligação entre os dois países. Cabia aos doleiros repassar o dinheiro para "quitar" dívidas de traficantes e contrabandistas, que em troca enviavam os produtos e as drogas ao Brasil.
"Eles possuíam várias empresas usadas pelo comprador para depositar o dinheiro que deveria chegar ao Paraguai. Quando envolvia pequenas quantias, sacavam em agências bancárias e levavam esse dinheiro fisicamente pela Ponte da Amizade. Quando envolvia quantias maiores, usavam o esquema de 'dólar cabo', uma espécie de compensação em que o dinheiro passa de uma mão para outra sem sair do país onde está”, explicou o delegado.
César esclareceu ainda que grande parte dos sócios-laranjas sabiam das atividades ilícitas da qual estavam participando e por isso também podem responder por tráfico de drogas, descaminho e contrabando, além de formação de quadrilha e falsidade ideológica.
"O alvo nesta operação não era o tráfico de drogas ou o contrabando, mas o caminho que o dinheiro percorria. E, com isso, conseguimos chegar aos líderes da quadrilha e desvendar como os envolvidos operavam este esquema financeiro paralelo", observou o delegado da Receita Federal em Foz do Iguaçu, Rafael Dolzan.
Até o fim da tarde, ainda faltavam ser cumpridos quatro mandados de prisões temporárias e dois de condução coercitiva. Os 68 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. O mandado do Rio Grande do Sul foi cumprido no municípios de Soledade. O empresário não teve a identidade revelada pela Polícia Federal e estava em um hotel da cidade.
As prisões temporárias têm prazo de cinco dias e podem ser prorrogadas pelo mesmo período. Já as preventivas não têm prazo pré-definido. Durante ação, foram apreendidos R$ 62,3 mil, US$ 400 dólares, três carros e uma arma sem registro.
Os municípios alvo da operação são: Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, Matelândia, Cascavel, Toledo, e Altônia, no Paraná; Joinville, em Santa Catarina; Soledade, no Rio Grande do Sul; e Ribeirão Preto e Monte Aprazível, em São Paulo. Mais de 200 federais e 30 servidores da Receita Federal atuam no cumprimento dos mandados.
A PF informou ainda que os investigados eram responsáveis por conferir a aparência lícita a recursos financeiros de origem criminosa e remeter o dinheiro ao Paraguai. Além dessas atividades, para atender às exigências de “doleiros” paraguaios, a organização criminosa também era responsável por transferir parte dos ativos ilícitos para contas bancárias brasileiras controladas por tais “doleiros”.
Bemol é referência à teoria musical
A operação da PF foi batizada de "Bemol" por possuir o mesmo propósito da Operação Sustenido, deflagrada há menos de um ano pela PF em Foz do Iguaçu, que desarticulou organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro. A expressão Bemol é uma referência à teoria musical, visto que tanto o sustenido quanto o bemol representam uma nota intermediária entre duas outras notas musicais.
A operação da PF foi batizada de "Bemol" por possuir o mesmo propósito da Operação Sustenido, deflagrada há menos de um ano pela PF em Foz do Iguaçu, que desarticulou organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro. A expressão Bemol é uma referência à teoria musical, visto que tanto o sustenido quanto o bemol representam uma nota intermediária entre duas outras notas musicais.
O papel das organizações criminosas dessas duas operações, segundo a PF, era fazer a ligação entre traficantes de droga, “cigarreiros” e empresários brasileiros, com os fornecedores de tais produtos residentes no Paraguai.
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