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terça-feira, 2 de junho de 2015

PARENTES DE ALUNOS DESAPARECIDOS NO MÉXICO DIVULGAM O CASO NO BRASIL.


Em setembro, 43 estudantes sumiram na cidade de Iguala.
'Oito meses sem saber dos filhos é desespero muito forte', diz mãe.

Do G1, em São Paulo
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Hilda Legideño Vargas, mãe de estudante desaparecido em 26 de setembro em Iguala (Foto: Marina Franco/ G1)
A caravana dos familiares, que também passou pela Argentina e pelo Uruguai, espera que movimentos sociais brasileiros se manifestem pelo caso dos 43 estudantes desaparecidos, para dar mais visibilidade ao caso
No último setembro, a vida da mexicana Hilda Legideño Vargas mudou completamente. Seu filho, Jorge Antonio Tizapa Legideño, desapareceu quando viajava em ônibus pela cidade de Iguala, vizinha a Ayotzinapa, onde estudava, no estado de Guerrero.
Jorge Antonio e outros 42 estudantes da escola Normal Rural de Ayotzinapa tinham viajado de ônibus para arrecadar fundos para seus estudos. Segundo as investigações, os jovens foram atacados a tiros pela polícia de Iguala e sequestrados sob as ordens do ex-prefeito da cidade, José Luis Abarca.
Hilda nunca mais viu seu filho. “Buscamos nossos filhos por toda Iguala, nas prisões, em hospitais e em um batalhão militar. A partir do dia 26 de setembro nossa vida mudou completamente”, diz Hilda, que está nesta terça-feira (2) em São Paulo com mais três familiares de estudantes desaparecidos.
A caravana dos familiares, que também passou pela Argentina e pelo Uruguai, espera que movimentos sociais brasileiros se manifestem pelo caso dos 43 estudantes desaparecidos, para dar mais visibilidade ao caso.

Mural montado pela Anistia Internacional na Cidade do México mostra retratos dos 43 estudantes que sumiram em setembro em Iguala  (Foto: AFP Photo/Ronaldo Schemidt)Mural montado pela Anistia Internacional na Cidade do México mostra retratos dos 43 estudantes que sumiram em setembro em Iguala (Foto: AFP Photo/Ronaldo Schemidt)
“Oito meses sem saber dos nossos filhos é um desespero muito forte. Mas entendemos que não podemos ficar sentados”, diz Hilda.
Segundo a investigação, a polícia sequestrou os estudantes e os entregou a pistoleiros do grupo Guerreros Unidos, para os quais supostamente trabalha o prefeito de Iguala. Os narcotraficantes teriam assassinado os jovens e queimado seus corpos durante 14 horas em um lixão da cidade vizinha de Cocula.
Descrença
No entanto, os familiares contestam esta versão. “Não há provas científicas, ela só se baseia na declaração de três pessoas que foram presas”, diz Hilda. “Nossa desconfiança em relação ao governo é total, porque ele levou os nossos filhos e devem saber onde estão. Não vamos descansar até encontra-los”, afirma.
O casal Mario César González Contreras e Hilda Hernández Rivera, que também está no Brasil, conta que desde o desaparecimento de seu filho, César Manuel González Hernández, teve que abandonar sua casa, a nove horas de Ayotzinapa, e se mudar para a cidade onde o filho estudava. Eles moram no quarto de um aluno da escola. “Era um garoto que queria estudar para ter uma melhor qualidade de vida”, diz Mario.
Familiares de estudantes mexicanos desparecidos contam suas histórias em evento em São Paulo. Da esquerda para direita: Francisco Sánchez Nava, estudante de Ayotzinapa, Mario César González Contreras e Hilda Hernández Rivera, pais de estudante desaparecido, e Hilda Legideño Vargas, mãe de estudante desaparecido (Foto: Marina Franco/ G1)Familiares de estudantes mexicanos desparecidos contam suas histórias em evento em São Paulo. Da esquerda para direita: Francisco Sánchez Nava, estudante de Ayotzinapa, Mario César González Contreras e Hilda Hernández Rivera, pais de estudante desaparecido, e Hilda Legideño Vargas, mãe de estudante desaparecido (Foto: Marina Franco/ G1)
"Pedimos ajuda ao governo federal. Prometeram buscar nossos filhos, mas já são oito meses que não temos nenhuma resposta. A única coisa que pedimos é que nos devolva nossos filhos, não há mais nada que pedir”, diz a mãe de César Hernández.

Aluno sobrevivente
Outro integrante da caravana que está no Brasil é Francisco Sánchez Nava. Além de primo de um dos estudantes desaparecidos, também é aluno da escola normal de Ayotzinapa e estava com o grupo no momento do ataque dos policiais.
Ele conta que estava em um dos três ônibus que os transportavam para angariar fundos para os estudos e que o comboio foi abordado duas vezes pela polícia local. Numa primeira vez, quando já estavam no meio da cidade de Iguala, os estudantes desceram do ônibus para explicar aos policiais que atiravam que estavam voltando à sua cidade. Apesar de terem sido liberados, na segunda vez uma patrulha bloqueava a estrada e, quando os estudantes saíram do veículo, mais policiais chegaram atirando “para todo lado”, diz Francisco.
“Nós gritávamos ‘somos estudantes, não disparem’, mas eles continuavam atirando”. Alguns colegas foram feridos, e um deles está em coma até hoje, diz o sobrevivente. “Então os policiais foram ao terceiro ônibus, onde estavam os 43 companheiros que estão desaparecidos. Começaram a bater neles e os levaram. Não conseguimos fazer nada para impedir”.
Frase Francisco, estudante sobrevivente ao ataque de policiais em Iguala, no México (Foto: Marina Franco/ G1)
Depois de chamar uma ambulância para atender os feridos, os estudantes sobreviventes foram a uma clínica médica de Iguala, onde os médicos chamaram a polícia. “Os militares chegaram dizendo que éramos vândalos e delinquentes. Dissemos que somos estudantes e que não havia nenhum delito. Ficamos três horas com os militares na clínica”, diz Francisco. Depois de liberados, os sobreviventes saíram à procura de abrigo com moradores locais. No dia seguinte, foram à procuradoria denunciar o que havia acontecido.
A investigação da Procuradoria Geral mexicana acusou o ex-prefeito de Iguala de ordenar que os estudantes fossem impedidos de entrar na cidade para evitar que invadissem um evento público de sua mulher, María Pineda, que aspirava ser a próxima prefeita.
Francisco contesta a versão. Diz que o grupo não tinha ideia do evento. “Nós fomos atacados às oito da noite, seu evento era no dia seguinte de manhã. Em nenhum momento sabíamos do evento”, diz.
Para ele, o caso ajudou a chamar a atenção sobre a violência no país. “Teve que acontecer, para que milhares de pessoas abrissem os olhos, para que se dessem conta do governo que temos noMéxico”, diz.

Ato em São Paulo
Os familiares da caravana participaram nesta terça-feira de um debate com integrantes do coletivo Mães de Maio, na Praça da Sé, em São Paulo. Ali, um grupo de manifestantes fez um ato em homenagem aos estudantes mexicanos desaparecidos. Velas foram depositadas na escadaria da Sé formando o número 43, o total de alunos que sumiram.
Grupo coloca velas formando o número 43 em referência aos estudantes mexicanos desaparecidos de Ayotzinapaga durante ato no centro de São Paulo (Foto: Nacho Doce/Reuters)Grupo coloca velas formando o número 43 em referência aos estudantes mexicanos desaparecidos de Ayotzinapaga durante ato no centro de São Paulo (Foto: Nacho Doce/Reuters)
Grupo faz ato em solidariedade aos 43 estudantes mexicanos desaparecidos de Ayotzinapa e às Mães de Maio na Praça da Sé, em São Paulo (Foto: Fábio Vieira/Código 19/Estadão Conteúdo)Grupo faz ato em solidariedade aos 43 estudantes mexicanos desaparecidos de Ayotzinapa e às Mães de Maio na Praça da Sé, em São Paulo (Foto: Fábio Vieira/Código 19/Estadão Conteúdo).https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=3926392783764741131#editor/target=post;postID=1864985544013606252

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