'Mães sem Nome’ nasceu do sofrimento de outras mães que perderam filhos e que trocam experiências pela internet.
A fofa Ana Luíza, de um ano e meio, tem uma responsabilidade grande: aliviar a dor da perda dos quatro irmãos que ela não conheceu.
“Ela fez eu voltar a sonhar, fez eu voltar a querer viver. Ela é um amor de neném, ela beija, ela abraça”, conta Verônica Dutra, mãe de Ana Luiza.
Verônica perdeu quatro filhos na maior tragédia natural do Brasil: a da Região Serrana do Rio de Janeiro, em 2011.
Verônica estava em casa com um sobrinho e os filhos: dois meninos e duas meninas.
”A água já estava entrando pelo buraco da janela, aí a água já carregou as duas. Eu corri para a sala, quebrei a janela da sala, botei o meu sobrinho e o meu filho em cima da laje, e quando eu ia subir com o neném, a parede quebrou. E naquela hora eu falei para Deus: acabou”, lembra.
Verônica encontrou apoio e conforto no projeto ‘Mães sem Nome’, um grupo que nasceu do sofrimento de outras mães que perderam filhos e que trocam experiências pela internet.
“É uma página que acolhe a pessoa, uma página que fala de amor, de esperança, de vontade de viver”, explica a mãe Márcia Noleto, fundadora do grupo ‘Mãe sem Nome’.
Márcia Noleto, fundadora do ‘Mães sem Nome’, perdeu a filha em um desastre de helicóptero.
Mariana era noiva do filho do governador do Rio de Janeiro.
Mariana era noiva do filho do governador do Rio de Janeiro.
Parentes reconheceram esse corpo como sendo da jovem Mariana Noleto, de 20 anos, namorada de marco Antonio Cabral, filho do governador do Rio de Janeiro.
“É uma dor tão insuportável, é uma coisa que beira, que chega ao limiar da loucura. E comecei procurando mães como a Míriam Vogel, a mãe da modelo Fernanda Vogel, que faleceu também em um acidente de helicóptero”, lembra Márcia.
Foi em 2001. Fernanda Vogel era namorada do empresário João Paulo Diniz. Ele conseguiu nadar até a praia, em São Sebastião, no litoral paulista. O corpo dela foi encontrado dias depois.
“Eu tentei, de alguma maneira, transformar a minha dor em amor. E eu não acredito em superação. Existe transformação. É quando, de alguma maneira, você pega um fato e faz ele ficar menos dolorido”, conta Myrian Vogel, mãe da Fernanda Vogel.
O grupo já tem duas mil participantes. Sempre que podem elas se encontram. Mulheres com histórias de perda e de busca por Justiça.
“Meu filho foi torturado por uma babá em 2006 e veio a falecer com uma lesão grande no pâncreas”, conta Cristina Fabbri, mãe do Pedro.
Cristina gravou em vídeo o sofrimento do filho e conseguiu condenar a babá a cinco anos e sete meses de prisão.
“Ele era meu filho único. O que ela fez comigo, ela destruiu uma família. E a ‘Mães sem Nome’ é isso, é uma mão. A gente procura uma mão que traga a gente à tona, lá de baixo, do fundo”, explica Cristina.
O lutador Marcos Jara, filho de Jane, tinha 39 anos. Em 2009, Marcos foi assaltado e morto por dois menores de idade. “Eu perdi tido, eu perdi sonhos, a alegria. É um vazio”, declara Jane Albuquerque, mãe do Marcos.
Uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro, se tornou o símbolo de uma das maiores dores que se pode sentir: a perda de um filho. Foi há cerca de três anos que um atirador matou 12 alunos. Logo depois da tragédia, as mães se uniram em uma associação buscando, umas nas outras, a força que faltava a todas elas.
Surgiu a ‘Anjos do Realengo’, fundada por Adriana. A filha dela, Luiza, foi uma das vítimas do atentado.
Desabafo, indignação, revolta, mas também leitura, poesia e brincadeiras.
Fantástico: Como é que você resolveu criar um grupo depois da tragédia?
Adriana: Eu queria trocar aquela dor. Eu queria me agarrar em alguma coisa, eu precisava continuar viva. Nesse exato momento que nós estamos aqui conversando, tem uma mãe desesperada, que pode estar me ouvindo, pode estar me vendo, e dizer para ela que não é o fim. Por mais que pareça, não é o fim.
Adriana: Eu queria trocar aquela dor. Eu queria me agarrar em alguma coisa, eu precisava continuar viva. Nesse exato momento que nós estamos aqui conversando, tem uma mãe desesperada, que pode estar me ouvindo, pode estar me vendo, e dizer para ela que não é o fim. Por mais que pareça, não é o fim.
Adriana, Marcia, Veronica e muitas outras mães não estão mais sozinhas. Hoje, formam uma grande rede de amor e solidariedade.
“É um grupo de vem acolhendo, tolerando todas essas passagens do luto, incentivando umas às outras, dando uma palavra de carinho”, explica a psicanalista Danielle Ruppert.
“Não é um grupo de lamento. É um grupo de colocar a gente para cima”, diz Fátima Rodrigues, mãe da Caroline.
É o que Maria Helena, que perdeu um filho num assalto, consegue com sua dança do ventre: trazer muitos sorrisos de volta.
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