SERTÃO CENTRAL
fonte:dsc/tempo da noticia
O ato de fé, permeado pelos costumes do povo sertanejo, já se repete há dez anos no município
Itatira. Com o tema: Menino Deus, sacramento do Amor do Pai, ensina-nos a celebrar a fé, a Paróquia de Itatira, realizou, no sábado, a tradicional Missa do vaqueiro. Homens e cavalos em um só sentimento, na cidade do Natal. A Paróquia de Menino Deus, que celebra os festejos do padroeiro, completa, nesta terça-feira, 144 anos de fundação. Ela foi criada no dia 23 de dezembro de 1870.
Os vaqueiros chegam de todos os lugares e aos poucos formam uma multidão. Neste ano, cerca de 600 participaram da 10ª missa em homenagem ao símbolo mais popular do sertão. Uma cavalgada saindo da Fazenda Serra Verde até a Igreja de Menino Deus, foi o ponto alto dos festejos de Natal em homenagem aos vaqueiros, que contou a presença de um Papai Noel.
Antes foram distribuídos presentes para os vaqueiros e foi e escolhida a rainha deles. Márcia Oliveira vai ostentar a faixa até o ano de 2015.
Na intimidade com as montarias, gibões, chapéus de couro, o som dos chocalhos, das batidas das ferramentas implantadas nos cascos dos cavalos, aboios, repentes e músicas do inesquecível Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que neste ano, se vivo estivesse completaria 102 anos. O ato litúrgico foi na Igreja de Menino Deus, após a cavalgada, no percurso de dois quilômetros.
Em cima de seus cavalos, eles participaram da celebração, rezaram pedindo paz, saúde, um inverno promissor para 2015 e agradeceram pelas bênçãos alcançadas. No rosto de cada vaqueiro, foi possível ver as marcas de uma vida de muito trabalho debaixo do sol forte do sertão, motivo de orgulho para eles.
Emoção
Na hora do ofertório, os vaqueiros depositaram no altar objetos do cotidiano e instrumentos usados na lida com os animais. Na celebração - presidida pelos padres Adriano Nascimento, da Paróquia de Menino Deus, de Itatira; e Edilberto Reis, da paróquia de Nossa Senhora Imaculada da Conceição, de Madalena, da Diocese de Quixadá - a emoção tomou conta dos presentes.
Os religiosos lembraram que o vaqueiro é um homem rústico, corajoso e forte como uma baraúna, é o trabalhador da Caatinga que vive a enfrentar os perigos para cuidar do gado. "Os vaqueiros precisam manter essa tradição. Os outros vão dando continuidade de maneira rústica e original. Tudo isso deve ser preservado, porque o vaqueiro é abençoado pelo Menino Deus", lembrou.
O padre Edilberto também destacou que os vaqueiros, para serem felizes, devem escutar a palavra de Deus e de Nossa Senhora, procurando colocar em prática a doutrina. "A felicidade está na nossa mente, no coração, nas nossas palavras. Ser feliz é seguir os passos divinos", salientou. "A Missa do Vaqueiro de Itatira é uma tradição que vai passando de pai para filho. O vaqueiro é um símbolo de coragem e arrojo dos sertanejos, figura lendária que desafia o tempo", completou.
Para o organizador do evento Paulo Ruberto um defensor da cultura popular, a vida dos vaqueiros de hoje não difere de antigamente. "Correr atrás do animal desgarrado faz parte do seu dia a dia. No Nordeste brasileiro, esta prática é bastante comum, eles são vistos por estradas de terras, vestidos de roupa de couro, correndo atrás das reses, arriscando sua vida em plena Caatinga", disse.
Aos 65 anos, o vaqueiro Raimundo Evenilson de Oliveira lembra que participou pela primeira vez da missa em 1971, depois disso nunca mais deixou de agradecer ao Menino Deus pela sua proteção. Ele que começou a lida com gado quando tinha 10 anos disse que é uma felicidade estar na festa e ainda com força para trabalhar.
Antonio Carlos Alves
Colaborador
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