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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

PONTOS DE VISTA.


Por Júnior Santiago

Apesar de clichê o ditado: Todo ponto de vista é na verdade a vista de um ponto; faz todo o sentido e ao mesmo tempo nos faz refletir que a perspectiva muda o quadro quando o viés deixa de ser engessado. Aliás, essa frase da sabedoria popular pede para que saiamos do comodismo; ora, implicitamente se está falando para deixar o comodismo de lado e se colocar em outros locais de observação, assim o conceito acerca de algo pode mudar ou até mesmo se confirmar ou ficar mais profundo.

Um bom exemplo pode ser o que entendemos por: “bom” e “mau”. Ambos os conceitos podem adquirir focos diferentes, basta olhar e comparar. Portanto, comparemos. O conceito de “bom” a priori se dá por aqueles que, através de uma prática, consideraram determinada ação como boa. Até aqui nenhuma novidade, contudo essa construção veio através de um ponto de vista.

Explicando, em poucas palavras acredito que toda essa conceituação do “bom” e por consequência o conceito também de “mau” é algo originado na antítese da divisão das classes sociais e nasce, justamente, do pensamento de que o homem como um ser dominante. Em poucas palavras: Isso revela que historicamente a classe dominante acabou associando à classe plebeia ao conceito daquilo que é mau, o oposto, a antítese (o contrário) da classe nobre. Por isso, os homens que se consideram “importantes” e são privilegiados (classe nobre) é quem espelham o conceito de “bom”. Então o conceito aqui parte do olhar para si mesmo.

Porém, baseando-se no latim façamos outra analogia com a palavra “malus” (mau), relacionada com melas (negro) e usada para designar o homem plebeu, de cor morena e de cabelos pretos. O “bom”, o “nobre”, o “puro” seria o oposto: de cabelos “bons”, pele clara. Isso faz oposição com o individuo de cabelos, pele e olhos negros. Com isso, a conceituação ganha um caráter estritamente político, que passa para um conceito agora psicológico, (talvez seja um devaneio bem grande, entretanto não custa nada criar a hipótese).

Contudo, se invertemos a situação e o ponto de vista, pode-se constatar que a verdade quanto ao “bom” e ao “mau” adquire uma nova faceta se olhada pelo lado da plebe, do pobre, do oprimido, daquele que é dominado. Na classe dominada, o conceito de mau se atribui para a nobreza, pois esta, com suas repreensões, castiga, maltrata, despreza a classe considerada mais baixa. Desse modo, se for perguntado ao escravo quem é o mau, ele apontará para o seu senhor, o feitor, o homem branco que o escraviza (ainda que este tenha ações humanitárias durante a vida). Aqui o conceito acontece por olhar o outro.

Tudo isso pode ser explicado porque o homem só consegue pensar em relação ao pensamento de outros. O bom é aquilo que o homem achou útil para si, vindo do outro. A utilidade mesquinha, a referência a outros para pensar e agir torna-se, uma origem marcada por uma inércia duvidosa e de um hábito sem graça. Isso somente distancia o homem daquilo que realmente é autêntico.

Para repensar os valores, é preciso que encontremos, agora, conceitos extremamente imparciais, desligando-nos de qualquer tipo de moral que aprisione. As morais baseadas em conceitos fantasiosos tendem ao nada. Os valores tendem a se deteriorar e o passar do tempo faz surgirem novos valores.

Pensando nisso, tenho inclusive uma visão pessimista, eu diria. E nisso tudo, cada vez mais se perde o sentido da vida, a finalidade das coisas. Tudo é efêmero, transitório. É a humanidade destruindo a própria humanidade.

Júnior Santiago é camocinense, Graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula.Fonte:RC/TN

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