O paciente foi submetido a uma cirurgia na coluna. Após receber medicação, passou 43 dias internado na UTI de uma unidade particular e teve a morte encefálica confirmada por um médico. Parentes registraram queixa na polícia e no Conselho de Medicina
Roberta Pinheiro/Tempo da Noticia
A família de um policial militar denunciou um suposto erro de prescrição de medicamento em hospital particular da cidade. Reginaldo Almeida de Oliveira, 49 anos, fez uma cirurgia em 30 de julho deste ano para aliviar dores nas pernas, mas, no dia de receber alta, passou mal no quarto do Hospital Santa Helena após receber uma medicação. O remédio usado como analgésico, o Tracrium, tem, segundo especialistas, outra indicação, a de paralisar a respiração. Nessa quinta-feira (11/09), após 43 dias internado, o paciente teve morte encefálica, segundo a família.
Reginaldo recebeu uma medicação e, logo em seguida, precisou ser socorrido. A equipe de plantão passou cerca de 40 minutos tentando reanimá-lo e, ao identificar pulso espontâneo, o encaminharam, em coma induzido, para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em busca de respostas, os parentes de Reginaldo registraram a ocorrência na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), no Conselho Regional de Medicina (CRM) e no Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF).
Segundo a irmã mais nova, Marta Oliveira de Almeida, 36 anos, os parentes se reuniram com a equipe do hospital para pedir esclarecimentos. “O medicamento aplicado não é permitido em leitos, apenas em centros cirúrgicos e UTIs. É muito forte”, disse. Desde que chegou na UTI, a família contou que algumas avaliações foram realizadas e mostraram morte cerebral. No entanto, para fechar um protocolo, são necessários três exames de oito em oito horas, feitos por médicos diferentes. “No segundo teste, os médicos viram um fluxo sanguíneo em três artérias que irrigam o cérebro. Dois dias depois, isso aumentou, mas, nos últimos dias, diminuiu de novo e agora só tem fluxo em uma artéria”, relatou Marta.
Na última quarta-feira, a irmã contou que Reginaldo teve outra parada cardíaca. Ela afirma que o coração está funcionando, mas o resto do organismo, só com remédio. “O médico da UTI nos disse que se ele sair dessa situação ele poderia se tornar um paciente crônico. Mas, ficaria quadriplégico, cego e surdo. O quadro neurológico dele é irreversível”, disse.
Procedimento
Desde o início deste ano, o policial Reginaldo fazia acompanhamento com o mesmo médico. Ele fez a ressonância e todos os exames necessários até o ortopedista marcar a data da cirurgia. “Chegamos a desmarcar uma viagem, porque ele reclamava muito de dor. O médico nos explicou que o procedimento era uma espécie de enxerto, algo simples. Iria fazer à noite para que Reginaldo pudesse sair no dia seguinte”, relembrou a esposa, Maria Soares de Araújo Almeida, 41 anos. A cirurgia foi considerada um sucesso pelos médicos e o paciente foi encaminhado para o quarto.
No dia seguinte, Reginaldo passava bem e conversava com a esposa enquanto se arrumava para deixar o hospital, quando uma técnica de enfermagem entrou no quarto, por volta das 6h30. Segundo Maria, ela não se identificou e disse que precisava dar um remédio para o paciente. Somente depois que a família descobriu que a medicação era o Tracrium, conforme mostra a documentação prescrita pelo médico. O Tracrium é um bloqueador muscular usado como complemento da anestesia geral para fazer intubação traqueal. De acordo com especialistas, só pode ser aplicado em centro cirúrgico, podendo ser usado na UTI.
“Após ela dar a injeção, ele ficou rígido, teve um choque, começou a pular e ter espasmos musculares. Gritou duas vezes e, na terceira, não conseguiu”, relatou. A técnica perguntou a Maria se o policial tinha epilepsia e ela negou. A enfermeira saiu do quarto para chamar ajuda. Enquanto isso, Maria tentava chamar pelo marido, mas não obtinha resposta.
O relatório da médica plantonista que atendeu Reginaldo apontou que “o paciente estava com ausência de pulso, com pupilas midriáticas e sem respostas à luz, sendo identificado parada cardiorrespiratória". Segundo o texto, "(…) Foram mantidas as manobras de ressuscitação durante aproximadamente 45 minutos, às 7h20 foi identificado pulso espontâneo, sendo então diagnosticado a volta dos batimentos cardíacos”.
Por comunicado, o Hospital Santa Helena confirmou a internação de Reginaldo Almeida de Oliveira, porém, em razão do sigilo médico, não poderá prestar qualquer esclarecimento sobre a conduta médica ou sobre os atendimentos prestados. A reportagem apurou que o hospital possui um corpo clínico aberto, ou seja, contam com médicos que têm autonomia (mesmo sem atuarem no quadro fixo do hospital) para prestar atendimento ambulatorial e clínico, bem como para cirurgia eletiva, desde que devidamente cadastrados no Conselho Regional de Medicina. O médico que atendeu Reginaldo não é do corpo clínico permanente do hospital. A instituição também informou que o paciente recebe total atendimento na UTI.https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=3926392783764741131#editor/target=post;postID=2599471970376347969
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